Depois de concluir o filme Mulheres do Meu País (2019), a cineasta Raquel Freire e a sua equipa viajaram de novo, por todo o território nacional, ilhas incluídas, para realizar uma minissérie que se estreia nesta segunda, 8, Dia Internacional da Mulher. De operárias a artistas, passando por líderes comunitárias, as protagonistas são todas mulheres com o mundo dentro, que vivem no nosso País e, diariamente, o fazem avançar um pouco mais. São o retrato de quem resiste, “as heroínas anónimas” como lhes chama a cineasta, que agora podemos ver em Histórias das Mulheres do meu País, uma trilogia de formato documental. “Não podia ficar pelo filme, era preciso dar-lhes voz, mostrar quem são estas mulheres, contar a sua história”, diz-nos Raquel Freire.
A série, que se segue ao filme estreado há dois anos, conta com três episódios com 12 histórias em diálogo, testemunhos de vida e de dignidade, de mulheres brancas, negras e ciganas, capazes de nos emocionar, fazer rir ou sentir um incomodativo aperto na garganta. Uma trilogia onde cabe o retrato de quem vence desigualdades sociais e altera o rumo da realidade em seu redor. O projeto foi inspirado na obra As Mulheres do meu País, da jornalista Maria Lamas, publicado no final dos anos 40, que abordava a condição das mulheres no Estado Novo, oferecido a Raquel pelas suas avós, também elas ativistas e feministas. Já o trabalho de pesquisa da cineasta contou com a colaboração de uma outra jornalista, Sofia Branco, com diversos artigos publicados na área dos direitos humanos, e no qual figuram estes retratos filmados. “Fomos à procura dessas mulheres desconhecidas e, nesta trilogia, vamos a fundo na história delas, no percurso em várias áreas”, continua a realizadora.
A presença feminina irá mostrar-se em setores como o mar e o vinho, por exemplo, tidos como “símbolos da nacionalidade”, e sempre conotados com os homens. Assim é com Leonor Freitas, empresária que foi capa da revista Forbes, e emprega mulheres, há 25 anos, em todas as áreas e com salários iguais, ou Maria José Neto, “Zeza” como é mais conhecida, uma pescadora de alto mar e líder comunitária, que criou uma associação de moradores e “pôs tudo a mexer na aldeia de Belinho”, em Esposende.
Entre as retratadas estão também Lúcia Vaz, empregada de limpeza, natural de Cabo Verde, que integra “o exército de mulheres negras que limpam as nossas cidades”, Adelaide Costa, engenheira do ambiente e bombeira, Alice Azevedo, mulher transgénero, Maria do Mar Pereira, socióloga, e Mynda Guevara, rapper. “A Mynda fala exatamente da dificuldade, da luta pela liberdade no quotidiano”; sublinha Raquel Freire. É também pela voz de Maria João Pereira, “uma mulher extraordinária” que, a partir de uma cadeira de rodas, ultrapassa todos os dias as dificuldades de viver na Madeira, um território de vales e montanhas. “Com o grupo Dançando com a Diferença, ela tornou-se bailarina, tem uma carreira internacional. É uma pessoa feliz”, nota a cineasta.
Tanto o filme como a minissérie contaram com produção da Associação Espaços e o apoio institucional da Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade. “É um projeto inspirador que permite dar voz a um painel muito diverso de mulheres no nosso País, desde sobreviventes de violência até quem está no serviço doméstico”, diz Rosa Monteiro, Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade. “É um mosaico muito interessante e rico de experiências de vida, atravessadas por vários fatores de desigualdade, materializando assim a nossa visão de trabalho nas políticas de igualdade”, sublinha à VISÃO Se7e.
Pela voz de cada uma destas mulheres ficaremos a conhecer o quotidiano, a diversidade de experiências vividas, as histórias que trazem ao espectador “um legado de confiança, justiça, perseverança, respeito e liberdade”, sublinha a realizadora. Através da coragem, emancipação e batalha contínua pela felicidade, elas conseguiram mudar o rumo à sua volta. “É uma longa luta, que nos cabe a todas, pois, a democracia não é se não aquilo que cada povo, em cada momento histórico, em cada território determina que o é”, nota Raquel Freire.
Veja o trailer:
Histórias das Mulheres do meu País > 8 mar, seg 22h45 (mais 2 episódios 15 e 22 mar) > RTP1