Quando se entra no número 6 da Rua das Gaivotas, uma transversal que liga a Rua do Poço dos Negros à Rua da Boavista, em Lisboa, há um néon vermelho a iluminar o hall: “©Próspero”, assim mesmo com copyright e a lembrar-nos a peça A Tempestade, que o Teatro Praga estreou em 2013. É esta a morada que a companhia ocupa há dois anos, em condições precárias, e que a partir este terça-feira, 6, depois de muitas obras, se transforma numa “espécie de centro de artes”. As palavras são do dramaturgo José Maria Vieira Mendes, um dos elementos dos Praga, que ganharam a concessão de parte do Palácio Alarcão, um edifício do século XVII, num concurso da Câmara Municipal. “Isto não é o espaço dos Praga. O que nos propusemos fazer foi criar um lugar de apresentação de novos artistas”, explica. “Em Lisboa, é difícil, para quem está a começar, arranjar espaços para mostrar o seu trabalho”. A ideia é abrir as portas da Rua das Gaivotas 6 (ficou este o nome oficial) a artistas de várias áreas, para apresentarem as suas criações, e para trabalharem ali em ensaios ou residências.
“Tem a vantagem de poder albergar diferentes coisas ao mesmo tempo”, diz Vieira Mendes, “o que permite uma comunicação entre pessoas que trabalham diferentes áreas”. Essa, lembra, tem sido a essência dos Praga. “Tem a ver com a nossa identidade: uma companhia que faz muitas coisas além de teatro, que faz objetos artísticos. Estamos a transformar essa ideia num espaço físico.” Ali há de investir-se na ligação à zona, trabalhando com as escolas e os seniores e criando laços com as estruturas vizinhas.
Ainda com as obras por terminar (a sala destinada às artes plásticas espera um mecenas que possibilite o arranjo do teto), certo é que numa das salas nascerá um centro de documentação, com os livros arrumados por cores, como na biblioteca do ator e encenador André e. Teodósio, outro dos elementos dos Praga. Até ao final do ano, a programação incluirá espetáculos de Rogério Nuno Costa, Joana Barrios, Jonas Lopes e André Murraças, a continuação do programa mensal Old School, de Susana Pomba, que já ali aconteceu, e residências de Miguel Bonneville e Rui Catalão, entre várias outras atividades. Pessoa em África, a próxima peça do Teatro Praga, começará a ganhar forma na Rua das Gaivotas 6 lá para o final do ano.
Para já, é tempo de celebrar. Nesta terça, 6, o dia que marca os 20 anos do Teatro Praga, haverá uma inauguração festiva, com um Mercado de Carne Fresca, em que vários artistas terão uma banquinha para mostrar o seu trabalho. A cravista Joana Bagulho dará depois um concerto e, mais tarde, na Shhhkola, chegarão amigos dos Praga para darem uma lição de cinco minutos: Joana Barrios, Sónia Baptista, Rui Tavares, Paula Sá Nogueira e João Fiadeiro são alguns deles. Ana Vidigal, por exemplo, explicará como fazer… cola em castelo.