Os peixes (5 600 animais marinhos de uma centena de espécies diferentes) começaram a chegar no final da passada semana. Vêm do Centro de Investigação do Reino Unido, em Weymouth, onde já passaram a fase de quarentena, e foram chegando, diariamente, até sexta, 12. Viajaram de avião e de carro. Os primeiros a entrar no Sea Life Porto, que abre as portas ao público no dia 15, próximo do mar e do Parque da Cidade, foram os tubarões e as raias de climas tropicais.
De carro são transportados os mais pesados -como os tubarões -de avião, viajam os mais pequenos (as anémonas, as alforrecas, o peixe-palhaço.). Os últimos “a picar o bilhete” serão os peixes característicos do rio Douro e da rede hidrográfica do norte do País: trutas, bogas, escalos, carpas, esgana-gato, trazidos por produtores locais. As tartarugas chegarão para o ano, quando estiver pronta a expansão do oceanário para o exterior, onde vão morar ainda focas, lontras e pinguins.
Há muito que os 31 tanques estão cheios à espera dos novos habitantes daquele que será um dos maiores equipamentos de entretenimento e lazer do País. É o 30.º do gigante Merlin Entertainments, o primeiro em Portugal (projecto de arquitectura de Pedro Balonas) e custou 10 milhões de euros. O maior tanque, o aquário Neptuno, tem 600 mil litros de água salgada a uma temperatura de 26/27 graus.
Todos os testes foram feitos, verificados os níveis de salinidade, temperatura, pH, nitratos, nitritos. A poucos dias da abertura, Jorge Soares, 34 anos, o veterinário responsável, confessa que a maior preocupação “se prende com a condição em que chegam os peixes”. No entanto, a fase de maior ansiedade aconteceu aquando “da constituição das equipas”.
“Tem que haver muito amor, muita paixão por estes animais.” Jorge Soares, que já passou pelos zoos de Lisboa e Barcelona, já tem tudo pronto para a alimentação de tantas espécies: “Muita variedade, desde peixe branco como a pescada, a peixes com ácidos gordos e saturados (a sardinha, o arenque, cefalópedes como a lula), até camarão e suplementos vitamínicos.”
VIAGEM TEMÁTICA
“Queremos contar uma história que começa na nascente do rio Douro e vai até ao Oceano Atlântico”, descreve Ana Torres, directora de marketing do Sea Life Porto. “Como papel educativo, uma das nossas missões é reproduzir o ambiente que as pessoas têm à porta, não fazia sentido estar a descrever o rio Amazonas quando temos aqui o Douro”, reforça Jorge Soares.
Depois de uma sala introdutória, a Câmara Escura, entremos então nesta viagem. A área “Rios e Riachos de Água Doce” é a primeira a recriar o ambiente do Douro Vinhateiro, onde não se esquece o pormenor das latadas das videiras. Aqui vão morar peixes de água doce, característicos do passado e presente do rio.
O visitante fica a saber que “apenas 3% de toda a água que existe na Terra é doce” e há peixes (como a truta-de-rio) que passam toda a vida em rios e lagos. E ainda que o Douro, rio de “natureza rebelde”, é o que “debita mais água por segundo no oceano”. Antes de chegarmos ao barco rabelo -sim, há um barco, que será outro ex-líbris -convém espreitar pela bolha de vidro, onde há-de sobressair um brasão da coroa portuguesa, e observar algumas espécies invasoras. “Caso do lagostim de água doce americano que é o principal destruidor do lagostim de água doce europeu, ou da perca-sol que tem tido uma acção devastadora nos rios em Portugal”, explica o veterinário.
“É a nossa função educativa.”
Prosseguimos para o “Douro”, mais próximo do tal barco rabelo “de fundo chato, boca aberta, popa mais alta que a proa para facilitar o manejo da espadela que serve de remo e de leme”, acompanhando o percurso dos peixes.
“Os aquários estão integrados no próprio ambiente”, explica Ana Torres. Paredes e objectos foram esculpidos manualmente, durante meses, por uma equipa de tematização inglesa. Assim, passamos pela Ponte D. Luiz I, por debaixo da Pérgola da Foz e entre as fachadas das casas da Ribeira, percorrendo a cidade portuária e orla marítima rumo ao oceano.
Atravessamos a zona das piscinas rochosas, onde se poderá tocar nalgumas espécies (caranguejos, lagostas, amêijoas). Ficamos a saber que animais e plantas que habitam nestes locais têm uma grande capacidade de adaptação aos diferentes habitats provocados pelas marés alta e baixa. Entramos numa sala que reproduz o casco de um navio afundado onde se formam autênticos recifes artificiais.
“Um navio pode parecer um lar inóspito e pouco apetecível mas, para muitas criaturas marinhas, é um autêntico paraíso debaixo de água”, asseguram. Aprendemos que o peixe “a caravela portuguesa, também conhecida como garrafa-azul, não é um animal mas sim uma colónia de animais…”. Chegamos a uma das maiores atracções: o tanque central ou Reino de Neptuno, deus do mar, das fontes e correntes de água na mitologia grega. E ele está lá debaixo de água, imponente, a guardar os peixes em redor. E nem todos serão meigos! É ali que vão habitar as garoupas tropicais, as raias, os tubarões (o de pontas negras, o zebra, o enfermeiro.). O maior tem 1,20m de comprimento (o zebra) “mas vai crescer muito mais no aquário”, avisa o veterinário.
Este é um espaço particular, com um túnel que permitirá aos visitantes passear debaixo de água com os peixes nadando em redor.
O Reino dos Nemos será outra atracção com os coloridos peixe-palhaço a espreitarem de um lado para o outro. Mais à frente, encontramos as Grutas do Oceano onde vão morar espécies tropicais. Sabia que os recifes de coral são, em conjunto com as florestas tropicais, os sistemas com maior diversidade biológica concentrada?
PROTEGER OS OCEANOS
No segundo piso entramos na sala do baú do Tesouro, atravessando o espaço dedicado às exposições temporárias (mudam anualmente).
O Sea Life abre com a Academia dos Tubarões (Shark Academy). Com a ajuda de quadros interactivos, explica como funcionam as mandíbulas de uma das espécies mais temidas pelo homem. Ao mesmo tempo que lança uma questão: “Serão eles os caçadores ou seremos nós, homens, que estamos a quebrar algumas regras?”. Seguimos para o Templo dos Cavalos-Marinhos. “É uma das nossas espécies mais queridas”, conta Ana Torres. O Sea Life faz, aliás, reprodução destes peixes que fazem lembrar a crina de um cavalo.
Caminhamos rumo ao ambiente tropical da Baía das Raias, onde existe um túnel só acessível à altura das crianças permitindo a intensa interactividade que o Sea Life deseja levar a cabo com os visitantes. Antes de sairmos, atravessamos a sala “SOS Proteja os nossos Oceanos”, projecto que prevê a realização de actividades de preservação da vida marinha, consciencialização ambiental e social e que quer envolver toda a população. Actualmente, desenvolve uma campanha para travar o abate das criaturas marinhas que morrem anualmente em redes de pesca destinadas a outras espécies. Mas há outras a decorrer. Foi já no Porto, este ano, que o Sea Life assinou a parceria com a Whale and Dolphin Conservation Society, que envolve parceiros de todo o mundo alertando para a protecção de cetáceos, como as baleias e golfinhos. Todas as salas/ambientes têm painéis explicativos escritos em português, inglês e espanhol. Até ao final deste ano, o Sea Life espera receber 220 mil visitantes e, para o ano, as expectativas aumentam para os 300 mil.
Caso para perguntar: este espaço poderá fazer concorrência ao Oceanário de Lisboa? “Não somos concorrentes, costumo até dizer que poderia haver um bilhete integrado porque as experiências são diferentes. O Sea Life convida a uma experiência, sobretudo, em família”, remata a directora de marketing.
OCEANÁRIO SEA LIFE 1.ª Rua Particular do Castelo do Queijo, Porto www.sealifeeurope.com Seg-Dom 10h Bilhetes: €10,95 (adulto), €8,20 (4-12 anos), <3 anos Grátis, €32,50 (familiar: 2 adultos + 2 crianças)
SABIA QUE…
>> O polvo é um animal muito inteligente, tanto como o cão, e que é capaz de desarrolhar tampas de frascos, resolver labirintos, e brincar atirando garrafas contra a corrente?
>> Nos cavalos-marinhos é o pai que transporta os ovos e dá à luz uma centena de bebés? E que não são fiéis a um parceiro e, alguns, cortejam outros do mesmo sexo?
>> Os peixes-lua podem atingir o tamanho de um camião?
>> O linguado nasce com um corpo simétrico, com um olho de cada lado. Mas depois de crescerem, um dos olhos migra para o lado oposto da cabeça?
OS AQUÁRIOS DO GRUPO BRITÂNICO NO MUNDO
O primeiro Sea Life da Merlin Entertainments abriu na costa Oeste da Escócia em 1979. Hoje, os 30 centros Sea Life estão espalhados pela Europa: 11 no Reino Unido, 9 na Alemanha, outros em Espanha, Bélgica, EUA, Finlândia, França, Holanda, Itália, Dinamarca e, agora, em Portugal.
O gigante britânico é o maior operador de aquários do mundo e ocupa o segundo lugar (depois da Disney) na indústria de atracções. A Merlin detém ainda os Parques Legoland, Madame Tussauds, Alton Towers e London Eye.