Mais mil milhões de pessoas vivem com obesidade em todo o mundo e a condição está associada a cerca de 5 milhões de mortes anuais, na sequência de outras doenças, como as cardiovasculares ou a diabetes.
Agora, um grupo de quase 60 investigadores de vários países está a desafiar a forma como a obesidade é definida e diagnosticada, com o argumento de que não tem em conta a complexidade da doença. Publicado esta semana na The Lancet Diabetes & Endocrinology, o artigo foca-se na forma como o excesso de gordura corporal, ou adiposidade, afeta a saúde, em detrimento da atenção dada ao Índice de Massa Corporal, ou IMC, tido cada vez mais como obsoleto.
Ao usar uma fórmula simples que envolve apenas a altura e o peso, o IMC não distingue a composição corporal, ou seja, não faz, por exemplo, a distinção entre massa muscular e gordura e, por isso, tem vindo a ser desvalorizado nos últimos tempos. Com este cálculo, um atleta com elevada massa muscular pode cair no intervalo da obesidade, enquanto uma pessoa com um IMC considerado normal – pessoas com excesso de gordura corporal nem sempre têm um IMC acima de 30 (o valor a partir do qual se define a obesidade) – pode estar em sério risco de saúde, incluindo problemas cardíacos, por ter gordura em excesso.
Francesco Rubino, especialista em cirurgia bariátrica no King’s College London e o grupo de investigadores que liderou para criar esta nova abordagem à obesidade, propõem, então, a combinação do IMC com outros métodos de avaliação, como a medida da circunferência abdominal medida na cintura, ou o recurso a imagiologia com raios-x de baixa intensidade para medir diretamente a massa gorda.
“O grande objetivo é conseguir uma definição mais precisa de forma a identificar as pessoas que realmente precisam mais de ajuda”, resume David Cummings, um especialista em obesidade da Universidade de Washington e um dos 58 investigadores envolvidos na publicação que introduz, então, dois novos diagnósticos: obesidade clínica e obesidade pré-clínica.
Na categoria da obesidade clínica caem os que reúnam uma série de critérios, de marcadores de obesidade, como o IMC, mas também que tenham problemas de saúde provocados pelo excesso de peso, como doença cardíaca, renal ou hepática, pressão arterial elevada, ou dor crónica e grave no joelho ou na anca. Este grupo seria elegível para tratamentos, incluindo intervenções acompanhadas ao nível do exercício físico e da dieta, e medicação.
Na segunda categoria, da obesidade pré-clínica, ficam os que estão em risco de ter qualquer um destes problemas acima mencionados mas que ainda não têm manifestações clínicas.
Com estes novos critérios de diagnóstico, estimam os investigadores, cerca de 20% das pessoas consideradas obesas já não caberiam nesta definição, enquanto outras tantas com um IMC mais baixo passariam a ser consideradas clinicamente obesas.
“Não ia alterar dramaticamente a percentagem de pessoas consideradas obesas, mas ia diagnosticar melhor as pessoas que têm realmente um excesso de gordura clinicamente significativo”, defende Cummings.