Imagine que, quando estivesse prestes a adormecer, despertava com um ruído extremamente forte e súbito na sua cabeça. Esta condição, denominada síndrome da cabeça explosiva (SCE) – nome não científico – tem sido estudada há várias décadas, embora seja ainda mal compreendida, e acontece quando as pessoas estão “num estado super relaxado”, diz Brian Sharpless, psicólogo clínico especializado no sono e investigador desta síndrome há vários anos, citado pela National Geographic.
O distúrbio auditivo raro, que dura geralmente menos de um segundo, é frequentemente descrito como um som semelhante ao que se ouve quando há uma explosão ou quando é disparada uma arma de fogo, por exemplo, e não como um zumbido. No entanto, não há uma causa física ou uma fonte externa conhecidas para a ocorrência desta síndrome.
Pelo contrário, é considerada uma experiência auditiva interna, que acontece no momento da transição entre a vigília e o sono, conhecido como “estado hipnagógico”, um estado de consciência intermediário entre a vigília e o sono. É uma fase de transição na qual uma pessoa está a começar a adormecer, mas ainda mantém alguma consciência do ambiente ao seu redor.
Sharpless explica que o que acontece é uma espécie de curto-circuito assim que o cérebro começa a desligar as áreas associadas às atividades auditivas, visuais e motoras.
Esta síndrome provoca dor?
A síndrome da cabeça explosiva não está associada a dor física. “Desde que não tenha dor durante [um episódio], não tem nada com que se preocupar,” explica Sharpless.
Contudo, pode provocar grande angústia e ansiedade. E embora ainda não haja uma resposta clara acerca da sua causa, acredita-se que possa estar relacionada a distúrbios do sono, tal como isónia. Em termos clínicos, o distúrbio é considerado uma “parassónia sensorial paroxismal”, ou um distúrbio do sono que se apresenta sob a forma de uma “explosão súbita” de som.
Sharpless refere que as pessoas que sofrem deste distúrbio raramente falam sobre ele. Um estudo concluiu que apenas 11% das pessoas comunicam que têm síndrome da cabeça explosiva a um profissional de saúde, também porque raramente provoca sinais ou desconforto prolongados (e geralmente não requer tratamento médico específico).
Contudo, caso os sintomas persistam ou provoquem sofrimento significativo, é aconselhável procurar orientação médica para descartar outras condições subjacentes e discutir estratégias para gerir a ansiedade associada a experiências auditivas incomuns como esta.
Investigações necessárias para se compreender melhor este fenómeno
A síndrome da cabeça explosiva tem sido estudada há várias décadas, mas ainda não é totalmente compreendida. Os relatos iniciais datam do século XIX – foi descoberta em 1876 por Silas Weir Mitchell, neurologista norte-americano que denominou esta síndrome como um choque sensorial. Contudo, o seu reconhecimento formal e a investigação científica mais substancial começaram a surgir apenas no século XX.
Nos últimos anos, houve um aumento do interesse em relação a este problema, também devido a uma maior vontade de entender melhor distúrbios do sono e condições relacionadas com o sono.
Em 1989, o neurologista J.M.S. Pearce chamou síndrome da cabeça explosiva a este distúrbio, referindo que esta condição é inofensiva e comum, mesmo que pouco relatada, e em 2005, foi classificada como distúrbio do sono pela American Academy of Sleep Medicine. Mas Sharpless e Peter Goadsby, neurocientista do King’s College London, têm tentado mudá-lo para choque sensorial craniano episódico.
Por ser uma condição rara e haver falta de estudos abrangentes, é difícil determinar com certeza a sua prevalência. Investigações sugerem, ainda assim, que a prevalência pode ser relativamente baixa, afetando uma pequena percentagem da população.
Um estudo publicado em 2015 na revista Sleep Medicine Reviews fez uma revisão da literatura existente acerca desta síndrome, relatando que a sua prevalência varia amplamente: algumas investigações sugeriram prevalências de 10%, outras de 35%, em determinadas populações.
Já uma investigação realizada por Sharpless e publicada na Journal of Sleep Research, concluiu que mais de 13% dos estudantes universitários relataram ter sofrido pelo menos um episódio desta síndrome.
Os investigadores têm trabalhado para identificar possíveis fatores de risco, mecanismos fisiológicos e opções de tratamento para ajudar quem sofre desta síndrome a lidar com os seus sintomas e a melhorar a sua qualidade de vida.
Mais investigações são necessárias para entender melhor a frequência com que este distúrbio ocorre e que fatores podem influenciar esta ocorrência.