Um novo estudo, publicado na última semana na revista JAMA Otolaryngology – Head and Neck Surgery, concluiu que utilizar aparelhos auditivos (para quem precisa) pode significar uma redução do risco de demência.
Para o desenvolvimento da investigação, a equipa analisou dados de mais meio milhão de pessoas no sul da Dinamarca, com 50 anos ou mais, acompanhando-as entre 2003 e 2017. As conclusões da equipa foram que os participantes com perda auditiva corriam um risco 7% maior de desenvolver demência, mas o risco foi ainda maior, cerca de 14%, nos voluntários com perda auditiva que não utilizavam aparelhos auditivos, em comparação com aqueles que os usavam.
Apesar destes resultados, que vêm somar às evidências crescentes de que a perda auditiva e a demência estão interligadas, existem ainda muitas dúvidas sobre se é causa ou correlação.
“As alterações cerebrais associadas à demência precoce podem afetar potencialmente a audição alguns anos antes de a demência ser diagnosticada”, refere Jason Warren, professor de neurologia e no Instituto de Neurologia Queen Square, da University College London, acrescentando que “devemos ser cautelosos ao inferir que a perda auditiva causa demência ou que a demência pode ser prevenida com o uso de aparelhos auditivos”, alerta.
Um outro estudo recente, desenvolvido por investigadores da Keck School of Medicine da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA, concluiu que utilizar aparelhos auditivos, caso sejam necessários, pode ajudar a proteger contra a morte prematura. As conclusões desta equipa de trabalho foram que “havia um risco 24% menor de mortalidade para pessoas que usam aparelhos auditivos”,
A equipa explica que não encontrou diferença no risco de morte durante o período da investigação entre aqueles que utilizaram aparelhos auditivos ocasionalmente e os que nunca os usaram; contudo, os utilizadores regulares destes dispositivos corriam um risco significativamente menor.
Além disso, esse risco de mortalidade foi menor para utilizadores de aparelhos auditivos, independentemente de determinados fatores como o grau de perda auditiva, a idade, a etnia e a escolaridade, por exemplo.
Para a realização do estudo, os investigadores analisaram dados de saúde de cerca de 10 mil pessoas, sendo que em mais de 1800 foi identificada perda auditiva, acompanhando a sua mortalidade durante 13 anos (entre 1999 e 2012).
Dos participantes com perda auditiva, 237 relataram utilizar aparelhos auditivos pelo menos uma vez por semana, enquanto 1483 referiram nunca terem utilizado estes aparelhos.
De acordo com Janet Choi, professora de otorrinolaringologia clínica e uma das autoras do estudo, a investigação é mais uma evidência de que a perda auditiva e a longevidade estão relacionadas.
Contudo, ainda há várias questões por responder, já que “este é um estudo de associação” e não foi analisado “o mecanismo por detrás dessa associação”, diz a investigadora, acrescentando que existem evidências de que a perda auditiva, quando não tratada, pode provocar isolamento social e o declínio da atividade física e da função cognitiva.
“Existem também alguns estudos que mostram que a própria privação auditiva (ou seja, não se expor a sons) pode ter um impacto negativo nas estruturas cerebrais”, refere ainda a investigadora do estudo, publicado na revista The Lancet Healthy Longevity.