O outono aproxima-se a largos passos e, com ele, um aumento do número de infeções respiratórias. Como todos os anos, o país, e o resto da Europa, preparam-se para arrancar com o processo de vacinação sazonal.
A pouco mais de uma semana do início da vacinação sazonal contra a gripe e a Covid-19, que, em Portugal, começa a 29 de setembro, tire as dúvidas que ainda possam existir relativamente à composição das doses de reforço, eficácia das mesmas, população elegível e como, quando e onde agendar a vacinação.
O que é que existe dentro de uma dose de reforço?
As doses de reforço, fabricadas pela Moderna e pela Pfizer, são, à semelhança do que acontecia anteriormente, vacinas de mRNA que ensinam o nosso corpo a produzir a proteína spike do vírus SARS-CoV-2.
Porém, a “receita” que é fornecida ao organismo foi agora atualizada de acordo com a proteína spike da sub-variante Omicron XBB.1.5. Tal atualização foi necessária, pois as novas variantes do vírus apresentavam já proteínas spike com alterações suficientemente significativas para permitir que escapassem aos anticorpos que criámos contra as variantes anteriores.
Por que razão escolheram os cientistas a sub-variante XBB.1.5 para a dose de reforço?
A XBB.1.5 foi escolhida por ser a principal variante causadora de infeções em junho, quando as vacinas precisavam de estar prontas. Entretanto, a sub-variante já foi amplamente substituída outras. Porém, a maioria delas está intimamente relacionada com a XBB.1.5, e, portanto, a nova dose de reforço deverá ser capaz de oferecer um elevado grau de proteção contra as mesmas.
“Como a Ómicron XBB.1.5 está intimamente relacionada com outras variantes atualmente em circulação, espera-se que a vacina ajude a manter a proteção ideal contra a Covid-19 causada por estas outras variantes, bem como pela Ómicron XBB.1.5.”, lê-se no site da Agência Europeia do Medicamento (EMA).
E é eficaz até mesmo contra a nova sub-variante BA.2.86?
Apesar de a nova variante BA.2.86 apresentar muitas alterações na proteína spike, um estudo inicial, divulgado a 7 de setembro na plataforma Medrxiv, e a aguardar a revisão pelos pares, indica que a dose de reforço realizada com base na XBB.1.5 também deve funcionar bem contra a variante BA.2.86.
Por que razão as doses de reforço, este ano, já não são bivalentes?
Ao contrário do que acontecia no ano passado, este ano, as doses de reforço contra a Covid-19 já não são bivalentes. Ou seja, já não contém uma mistura de mRNA que, além de codificar a proteína spike de variantes recentes, codifica também a proteína spike do SARS-CoV-2 original.
A decisão deve-se a estudos recentes que têm sugerido que os reforços bivalentes, apesar de oferecerem substancialmente maior proteção contra doença grave, não são melhores no que respeita a prevenção de infeções.
Uma equipa de investigadores da Universidade do Michigan, nos EUA, analisou anticorpos produzidos por 72 pessoas que, após as três primeiras doses da vacina, receberam um reforço monovalente, um reforço bivalente ou foram infetadas pela Ómicron.
A equipa descobriu que os tipos de anticorpos produzidos em resposta ao reforço bivalente eram semelhantes aos que aparecem após uma vacina monovalente, e ainda estavam focados na proteína spike original. Além disso, nas pessoas infetadas pela Ómicron registava-se uma mudança no alvo da vacina, surgindo mais anticorpos especificamente direcionados para a proteína spike desta variante.
Ou seja, parece que a inclusão da estirpe original tende a fazer com que o sistema imunitário acelere a sua resposta anterior, em vez de se concentrar nas variantes mais recentes. É por esta razão que a dose de reforço de 2023 é monovalente, contendo apenas mRNA para produzir a proteína spike da variante XBB.1.5.
E a quem é que se destina a vacinação de reforço?
Apesar de existirem linhas guia internacionais, cada país tomou as suas opções. Em Portugal, a vacinação de reforço destina-se aos cidadãos com mais de 60 anos, aos trabalhadores e residentes em lares, aos profissionais de saúde e aos doentes crónicos.
Onde é que será feita?
A população com mais de 60 anos, sem problemas de saúde, será vacinada nas farmácias.
Já os doentes de risco entre os seis meses e os 59 anos de idade; pessoas com 60 ou mais anos nunca vacinadas contra a covid ou com reação adversa relevante após a toma; grávidas, profissionais dos serviços de saúde públicos e privados e de outros serviços prestadores de cuidados de saúde; estudantes em estágio clínico; bombeiros afetos ao transporte de doentes e prestadores de cuidados a pessoas dependentes serão vacinados nos centros de saúde.
Quanto às pessoas institucionalizadas, em lares, unidades de cuidados continuados integrados ou prisões, serão vacinadas nestes locais por equipas dos cuidados de saúde primários.
Quem são os doentes de risco elegíveis para a vacinação no Centro de Saúde?
Pessoas com neoplasias malignas ativas, transplantados, pessoas com infeção por VIH, com doenças neurológicas, doenças mentais, doença hepática crónica, diabetes, obesidade, doenças inflamatórias ou autoimunes sistémicas crónicas e pessoas que se encontrem a fazer terapêutica crónica com medicamentos biológicos.
Mas também quem tenha trissomia 21, doença cardiovascular, desde insuficiência cardíaca, até miocardiopatias, hipertensão pulmonar ou doença coronária / enfarte agudo do miocárdio, doença renal crónica, doença pulmonar crónica.
Em Portugal, as pessoas elegíveis para a vacinação com doses de reforço já podem agendá-la online?
Apenas os cidadãos cuja vacinação ocorrerá nas farmácias. Os doentes de risco serão contactados pelos serviços do SNS, de acordo com a prioridade clínica de cada caso, tendo apenas de confirmar e aparecer no dia, hora e local indicados.
Como se processa o agendamento online?
Basta aceder ao portal disponível para o efeito https://agendamento.farmaciasportuguesas.pt/ . Quem preferir, também pode agendar a vacinação presencialmente ou telefonando para uma das cerca de 2200 farmácias aderentes.
Posso ser vacinado contra a gripe e contra a Covid-19 no mesmo dia?
Sim, a vacinação sazonal visa proteger precisamente contra o vírus influenza (gripe) e contra o SARS-CoV-2 (covid-19) e, por esta razão, as vacinas são administradas simultaneamente. De qualquer forma, e apesar de a coadministração ser recomendada, para que a proteção seja maior, o utente pode optar por tomar apenas uma das vacinas.