Uma investigação recente, que incluiu a revisão de vários estudos, concluiu que uma doença sexualmente transmissível (DST) comum mas pouco falada, denominada Tricomoníase, pode aumentar o risco de as mulheres desenvolverem cancro do colo do útero, um dos três tipos de cancro mais comum nas mulheres em todo o mundo,
Esta doença, uma infeção provocada pelo protozoário Trichomonas Vaginalis (TV), pode afetar toda a área genital das mulheres, tal como a vulva, a vagina – aqui denominada tricomoníase vulvovaginal -, a uretra e as glândulas paravaginais, sendo a mais comum a infeção na uretra (tricomoníase urogenital), que ocorre em 90% dos casos.
Os sintomas mais comuns de uma infeção por TV são dor, ardor ou desconforto ao urinar e nas relações sexuais, comichão na região genital e corrimento vaginal mais abundante e espesso do que o normal, de cor amarelada ou esverdeada e odor desagradável.
Os investigadores explicam, contudo, que até 85% dos casos desta doença podem ser assintomáticos, o que torna mais difícil diagnosticá-la e reconhecê-la, apesar de ser a infeção sexualmente transmissível não viral mais comum.
De acordo com os investigadores, que tiveram em conta dados de cerca de meio milhão de mulheres oriundas de quatro continentes, a doença pode criar um “ambiente favorável” ao crescimento do Papilomavírus Humano (HPV), que pode originar lesões benignas, como as verrugas, por exemplo, ou evoluir para cancro, com o cancro do colo do útero com especial destaque.
O que a equipa descobriu foi que, das mulheres que tinham Tricomoníase (8518, o equivalente a 1,8% das analisadas), o risco de desenvolverem HPV era 79% mais alto.
Contudo, apesar de o HPV ser responsável pela maioria dos cancros no colo do útero – aproximadamente 100% dos casos de cancro do colo do útero estão relacionados com infeção por HPV, com raras excecões, sendo que a evolução para cancro do colo do útero é muito lenta e, geralmente, assintomática – o vírus sozinho não é necessariamente suficiente para o induzir .
Existem, explica a equipa, fatores adicionais, tal como o tabagismo, a utilização de anticoncepcionais orais durante um período superior a cinco anos e o desenvolvimento de outras DST, que também podem contribuir para o desenvolvimento do cancro do colo do útero.
A equipa ressalva que, uma vez que as participantes do estudo não foram acompanhadas pelos investigadores deste estudo ao longo do tempo, não é possível estabelecer uma relação direta entre Tricomoníase e o cancro do colo do útero.
Ainda assim, como a primeira está, em alguns casos, associada à infeção por HPV, lesões e cancro no útero, os especialistas recomendam o acompanhamento das doentes com diagnóstico para a Tricomoníase.
“Aconselhamos a triagem e o tratamento de TV e outras DST quando o teste de HPV dá positivo e vice-versa”, afirma Balazs Hamar, um dos autores da investigação.