Em Portugal, a artrite reumatoide (AR) apresenta uma prevalência de 0,7%, de acordo com o grande estudo epidemiológico sobre doenças reumáticas EpiReumaPT, realizado entre 2011 e 2013, “Mas mais relevante do que a sua prevalência, é o seu potencial impacto”, diz à VISÃO Augusto Faustino, Reumatologista e Presidente de Direção do Instituto Português de Reumatologia.
No mesmo estudo, ao ser avaliada a qualidade de vida dos doentes reumáticos, a AR apresentou os piores resultados de todas as doenças deste tipo. Contudo, de acordo com o médico, e embora a artrite reumatoide contribua para aumentar a probabilidade de mortalidade dos doentes, tanto de forma direta ou devido a complicações resultantes do tratamento médico, “este número tem vindo a descer de forma substancial nos últimos anos, sobretudo num doente a quem seja feito o diagnóstico precocemente” e que tenha à disposição as melhores opções terapêuticas.
Nesta doença crónica e inflamatória, que afeta 70 mil portugueses, o sistema imune começa a atacar as próprias células e tecidos do organismo, sendo quatro vezes mais comum em mulheres do que em homens. No País, por exemplo, a prevalência entre sexos é de 1,1% no sexo feminino e 0,3% no sexo masculino. “O pico de incidência nas mulheres é após a menopausa, mas pessoas de todas as idades podem desenvolver a doença, incluindo adolescentes”, esclarece Augusto Faustino.
A inflamação das articulações é uma das caraterísticas principais da doença e pode provocar dor (que se agrava durante a noite), edema e, por vezes, rubor e calor, além de poder causar também rigidez, uma sensação de prisão dos movimentos, principalmente no início da manhã ou depois de períodos de repouso. O normal é que a doença comece a manifestar-se com articulações inchadas e dolorosas, nos dois lados do corpo, atacando inicialmente as pequenas articulações das mãos e dos pés. “À medida que a doença progride, mais articulações podem inflamar, incluindo ombros, cotovelos, ancas e joelhos”, explica o especialista.
“A AR tem de deixar de ser entendida como um diagnóstico estático, um “rótulo” absoluto igual para todos os doentes”
Augusto Faustino explica que o diagnóstico da artrite reumatoide, assim como das doenças reumáticas no geral, é “complexo”, isto porque são “doenças evolutivas, que apresentam uma história natural longa e variável, com apresentações clínicas muito distintas, consoante a fase da doença e a especificidade individual de cada doente”. Além disso, manifestam-se por sintomas e sinais repetitivos que estão presentes na “esmagadora maioria dos doentes”, independentemente da doença reumática em questão.
“Também por isto”, adverte o médico, “percebe-se que qualquer tentativa de identificar e tratar um doente individual baseando-se em critérios estáticos não apresenta qualquer vantagem, antes pelo contrário”. “A AR tem de deixar de ser entendida como um diagnóstico estático, um “rótulo” absoluto igual para todos os doentes”, diz ainda o especialista, acrescentando que este é o caminho para “reduzir de forma significativa” a morbilidade, mortalidade e os custos económicos e sociais da doença.
O que há de novo – e promissor – no seu tratamento
Nos últimos anos, tem havido um “reforço enorme” das opções terapêuticas para esta doença, que se juntam aos já clássicos medicamentos anti-reumáticos modificadores de doença. Primeiro, esclarece Augusto Faustino, com o aparecimento dos fármacos biotecnológicos e, mais recentemente, com uma nova classe terapêutica, os tsDMARDs (targeted synthetic DMARDs, em inglês, ou DMARDs sintéticos de alvo), fármacos orais sintéticos, “projetados com um alvo molecular intracelular específico em mente”.
“Dentro de todos os DMARDs sintéticos investigados até agora, sobressai em absoluto uma família de fármacos, com um mecanismo de ação comum, os Inibidores da JAKinase, tendo como moléculas mais representativas o tofacitinib, o baricitinib, e o upadacitinib, que já estão disponíveis para utilização clínica em Portugal, e o filgotinib, ainda em fase mais precoce de aprovação”, esclarece o especialista.
Os inibidores da JAKinase são pequenas moléculas que, ao agirem a nível de diferentes alvos intracelulares, vão ter impacto na ação de várias citocinas, proteínas que modulam a função de outras células ou da célula que as geraram, sendo importantes para o controlo da resposta imunitária. E, segundo o médico, esta nova abordagem terapêutica é muito eficaz, incluindo no “controlo da inflamação, inibição de dano estrutural e melhoria de qualidade de vida e funcionalidade do doente”.