Olhando os números dos boletins epidemiológicos do nosso País, podemos deduzir que, desde 24 de dezembro, pelo menos mais de 64 mil portugueses tenham realizado a tarefa hercúlea de ligar, e ser atendidos, pela linha de saúde SNS24. Isto sem contar com todos os que fizeram o mesmo telefonema a fim de se identificarem como contactos de pessoas positivas.
A espera é, a dizer pouco, infinita e pode-se arrastar para lá dos 60 minutos. Há quem desista, quem acabe por ser considerado fora de risco por ter tido Covid-19 há menos de 180 dias e quem persista, mas sem conseguir obter códigos de acesso à realização de testes PCR.
Como forma de tentar resolver estes problemas, os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) asseguraram à VISÃO que, nos últimos dias, foram melhoradas e adotadas soluções de atendimento automatizado.
Ou seja, mesmo que acabem por não ser atendidos por um profissional de saúde, os suspeitos positivos, positivos, ou contactos de alto e baixo risco, têm forma de reportar a situação em que se encontram a um atendedor automático.
“Estas funcionalidades foram sendo disponibilizadas entre quinta-feira, 23 de dezembro e terça feira, 28 de dezembro”. Os SPMS asseguram que, mesmo neste sistema robotizado, “caso se justifique a emissão de uma Declaração de Isolamento Profilático, a mesma será emitida”.
Além disso, quando um utente testa positivo num teste TRAg (antigénio rápido) ou PCR essa informação “entra diretamente no sistema de vigilância epidemiológica, que, por sua vez, alimenta o sistema de vigilância clínica usado pelas unidades de medicina geral e familiar e de saúde pública”. Assim, havendo necessidade de uma baixa médica, o Centro de Saúde saberá que tem de ligar ao utente e passar a mesma.
Um sistema robotizado de atendimento de chamadas não será a situação ideal, mas os SPMS asseguraram à VISÃO que “os algoritmos usados pelo robô do SNS24 são semelhantes aos utilizados pelos profissionais do SNS24 e são aprovados pela DGS”.
Ainda assim, e porque as dúvidas são muitas e um robô a atender chamadas não responde a perguntas, a VISÃO resume as questões mais frequentes que têm assolado os milhares de portugueses que tentaram contactar o SNS24 nos últimos dias.
1. Não tenho a certeza se o meu auto teste é positivo. O tracinho do T tem de ser muito nítido?
Não. Os médicos que falaram com a VISÃO explicam que a linha junto do T não tem de ser muito nítida. Basta estar visível para que o resultado seja considerado um suspeito positivo. Este resultado deve depois ser confirmado e validado através de um teste de maior especificidade e sensibilidade, como um teste PCR ou um teste rápido antigénio feito por um profissional numa farmácia.
2. Testei positivo num auto-teste. O que fazer?
Em primeiro lugar deve sempre tentar ligar para a linha 808242424. Segundo os SPMS, desde dia 28 de dezembro, é possível reportar um auto-teste positivo de forma automatizada. Caso se justifique a emissão de uma Declaração de Isolamento Profilático, a mesma será emitida.
O site da DGS indica ainda que deve “realizar teste laboratorial, prescrito pela autoridade de saúde”. Ser-lhe-há enviado um código, por SMS, para poder agendar o teste PCR num laboratório onde haja vaga.
Uma vez que tal processo está demorado, entretanto, deve avisar as pessoas com quem esteve nas últimas 48 horas antes de ter sintomas. Caso não tenha sintomas, deve então avisar as pessoas com quem esteve nas 48 horas antes de ter realizado o auto-teste com resultado positivo.
3. Contactei, há menos de 48 horas, com um caso confirmado de Covid-19 que teve sintomas. Sou considerado um contacto?
Sim. O período de infecciosidade, em casos sintomáticos, segundo a DGS, é “desde 48 horas antes da data de início de sintomas de Covid-19, até ao dia em que é estabelecido o fim do isolamento do caso confirmado”.
4. Contactei, há menos de 48 horas, com um caso confirmado de Covid-19 que não tem sintomas. Sou considerado um contacto?
Sim. O período de infecciosidade, em casos não-sintomáticos, segundo a DGS, é “desde 48 horas antes da data da colheita da amostra biológica para o teste laboratorial para SARS-CoV-2 até ao dia em que é estabelecido o fim do isolamento do caso confirmado”.
5 . Sou contacto de um caso positivo. Como sei se sou contacto de alto risco?
Ao ligar para a linha SNS24, o profissional de saúde que atender definirá se o contacto é de alto ou baixo risco. De acordo com as normas da DGS em vigor, são considerados contactos de alto risco pessoas que, no período de infecciosidade de 48 horas:
- não têm o esquema vacinal completo
- tiveram contacto cara-a-cara com o positivo a uma distância inferior a um metro
- tiveram um contacto cara-a-cara com o positivo, a um ou dois metros de distância, durante um tempo igual ou superior a 15 minutos
- coabitem ou tenham estado com o caso positivo numa viagem dentro de um veículo fechado, numa sala de aula, de reuniões, num almoço ou jantar, durante mais de 15 minutos
- sejam contacto do caso positivo no contexto de um surto em lares, Unidades de Cuidados Continuados Integrados da Rede Nacional de Cuidados Continuados, instituições de acolhimento de crianças e jovens em risco, estabelecimentos prisionais ou Centros de acolhimento de migrantes e refugiados
6. Sou contacto de um caso positivo. Como sei se sou contacto de baixo risco?
Ao ligar para a linha SNS24, o profissional de saúde que atender definirá se o contacto é de alto ou baixo risco. De acordo com as normas da DGS em vigor, são considerados contactos de baixo risco pessoas que, no período de infecciosidade de 48 horas:
- tiveram contacto cara-a-cara com o positivo, a uma distância entre um e dois metros, durante um período inferior a 15 minutos
- coabitem ou tenham estado com o caso positivo numa viagem dentro de um veículo fechado, numa sala de aula, de reuniões, num almoço ou jantar, durante menos de 15 minutos
7. Tive um contacto de alto risco e não consigo ser atendido pelo SNS24. O que devo fazer?
Deve sempre tentar ligar para a linha do SNS24, até porque, como asseguraram os SPMS à VISÃO, “a par da mencionada robotização, abriu em Coimbra, na semana passada, um novo call center que terá 100 profissionais até ao final desta semana e 250 em janeiro, abrirá outro em Beja, até à primeira semana de janeiro, e, até ao final da segunda semana de janeiro, serão contratados mais cerca de 750 profissionais”.
De acordo com as normas da DGS em vigor, atualizadas esta quinta feira, 30 de dezembro, os contactos de alto risco devem:
- cumprir sete dias de isolamento profilático (se se mantiverem sempre sem sintomas)
- realizar um teste PCR o mais precocemente possível, idealmente, até ao terceiro dia após a data da última exposição ao caso confirmado
- realizar um segundo teste PCR ao sétimo dia após a data da última exposição ao caso confirmado, após o qual, se o resultado for negativo, termina o período de isolamento profilático
- manter o uso da máscara e as medidas não farmacológicas em vigor, em todas as circuntâncias, mesmo após o fim do isolamento profilático, até ao décimo dia após a data da última exposição ao caso confirmado
Na norma atualizada da DGS lê-se ainda que, se os contactos de alto risco identificados pelo SNS 24 não forem contactados pela Autoridade de Saúde, devem permanecer em isolamento profilático, sendo enviado, para o efeito e automaticamente um SMS de “fim do isolamento”, pelo SNS 24, ao 7.º dia após a data da última exposição de alto risco ao caso confirmado ou do contacto com o SNS 24.
8. Tive um contacto de baixo risco. O que devo fazer?
Os contactos de baixo risco são identificados como tal pela linha SNS24. Segundo os médicos que falaram com a VISÃO, neste momento, com a quantidade de casos que existe, somos quase todos contactos de baixo risco, devendo apenas os de alto risco seguir à risca as indicações a eles destinadas. Os restantes devem continuar a ter todos os cuidados, seguir as medidas não farmacológicas de proteção e manter as precauções adequadas ao contexto pandémico que vivemos.
9. Caso não consiga contactar o SNS24 e precise de baixa médica, o que devo fazer?
O certificado de incapacidade temporária é emitido pela autoridade de saúde local. Caso não o obtenha em tempo útil, explique a situação ao empregador e tente ir ligando para o seu Centro de Saúde. Neste período, as linhas telefónicas são praticamente impossíveis de contactar, por isso, opte por enviar também um e-mail expondo a situação.
10. Alguém na linha SNS24 disse-me que o meu médico de família seria capaz de dizer que variante me infetou. É possível?
Não. A sequenciação genómica da amostra do teste, que permite definir que variante infetou o doente, é geralmente feita mais tarde pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), de forma anonimizada, e não costuma ser transmitida aos médicos nem aos pacientes.
De qualquer forma, de acordo com o relatório do INSA, divulgado a 29 de dezembro, a variante Ómicron atingiu uma proporção estimada de 75% na segunda-feira, 27 de dezembro. Ou seja, é muito provável que possa ter apanhado esta variante.
Os médicos que falaram com a VISÃO sublinham que não se pode dizer que existam sintomas específicos para variantes. No entanto, no caso da Ómicron, sabe-se que há menos perda de olfato e paladar, mais queixas nasais, cefaleias e dores de garganta.
11. Tive Covid-19 há menos de 180 dias. Posso ter apanhado a nova variante na mesma?
A primeira coisa que a linha do SNS24 pergunta é esta questão. Caso a resposta seja sim, a pessoa não é considerada um risco e termina a chamada. Este prazo de 180 dias prende-se com a validade do certificado de recuperação.
Os médicos que falaram com a VISÃO referiram que, neste momento, há evidências que podem existir infeções antes deste período, ainda que o risco de tal acontecer seja muito baixo. Eventualmente, perante a nova variante, este prazo poderá ter de ser reavaliado.