A nova estirpe de coronavírus, B.1.1.529, identificada pela primeira vez a 9 de novembro na África do Sul e anunciada pelas autoridades sul-africanas na última quinta-feira, já foi identificada como Omicron e definida como “preocupante” pela Organização Mundial de Saúde (OMS), por poder ser altamente transmissível e provocar um “risco acrescido de reinfeção”.
Contudo, a organização ressalvou o facto de ainda não existir evidência científica suficiente de que esta variante tem, de facto, maior grau de transmissibilidade do que a Delta, identificada na Índia e a mais transmissível, até ao momento.
As investigações à nova estirpe realizadas até agora concluíram que a Omicron, com grande capacidade mutacional – já provocou “várias mutações e algumas delas preocupantes”, refere a OMS -, não tem origem numa sublinhagem da variante Delta. O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) confirmou, também, na última sexta-feira, que a linhagem desta variante tem “um número de mutações na proteína Spike (a chave que permite ao vírus entrar nas células humanas) anormalmente elevado, muitas delas já identificadas separadamente noutras variantes, e as quais se pensam poder estar associadas a uma maior transmissibilidade e/ou falha de ligação aos anticorpos”. Tendo em conta a análise das variantes anteriores, sabe-se que algumas mutações podem sugerir um aumento na capacidade de transmissão e uma diminuição na eficiência das vacinas.
Apesar de ter sido descoberta em África, na província sul-africana de Gauteng, que inclui as cidades de Pretória e Johanesburgo, na Europa já foi identificado um caso na Bélgica – uma mulher não vacinada que viajou para o Egito -, assim como na Alemanha. Israel, Hong Kong (Região Administrativa da China) e Botswana são outros países onde a Omicron já foi registada, afirma a OMS.
Em Portugal, até ao momento, ainda não foi detetado nenhum caso desta nova variante, sendo que João Paulo Gomes, investigador do INSA, afirmou que a nova estirpe é “um motivo de preocupação, mas não é motivo de alarme total”.
Na última sexta-feira, devido ao aparecimento da nova estirpe, o Ministério da Administração Interna (MAI) anunciou que os voos de e para Moçambique vão ser suspensos a partir da meia-noite de segunda-feira, 29 de novembro, além de impor quarentena de 14 dias a passageiros vindos também da África do Sul, Botsuana, Essuatíni, Lesoto, Namíbia e Zimbabué. O Reino Unido, a Alemanha, a Áustria, a Itália, o Japão e Singapura decidiram, no mesmo dia, suspender os voos desses sete países para o seu território e mais tarde os 27 Estados membros da UE também concordaram acionar o travão de emergência, impondo a suspensão de voos desses países da África Austral para o espaço comunitário.
Esta variante pode reduzir a eficácia das vacinas?
Jenny Harries, da Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido, afirmou esta sexta-feira que a Omicron é a “variante mais significativa” encontrada até agora, sendo necessário “realizar uma investigação urgente para descobrir mais sobre a sua transmissibilidade, gravidade e suscetibilidade à vacina”.
No mesmo dia, o Centro Europeu de Controlo de Doenças alertou para o facto de que a nova variante do vírus SARS-CoV-2 suscita “sérias preocupações de que possa reduzir significativamente a eficácia das vacinas”. Mas a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) referiu que ainda é prematuro fazer previsões sobre a necessidade de adaptação das vacinas existentes à variante.
Já Vincent Enouf, do Centro Nacional de Referência de vírus respiratórios do Instituto Pasteur de Paris, referiu que “é preciso verificar se os anticorpos produzidos pelas vacinas atuais continuam a funcionar, até que nível e se impede os casos graves” e o virologista francês Etienne Decroly referiu, por outro lado, no Twitter que “é urgente adaptar as vacinas de RNA mensageiro e as doses de reforço às variantes em circulação”,
O laboratório alemão BioNTech, aliado à Pfizer, já confirmou que “o mais tardar em duas semanas” vão chegar os primeiros resultados de estudos sobre se a nova variante detetada na África do Sul resiste à proteção vacina.