Em 2022 poderá estar disponível um novo tipo de vacinas, que serão uma arma forte no combate ao vírus. Mas entretanto, com o número de casos a aumentar em Portugal, é preciso “ter um pouco mais de paciência e continuar a lutar contra o vírus com as medidas de proteção individual”. Quem o diz é o imunologista e professor catedrático da Faculdade de Medicina de Coimbra, Manuel Santos Rosa, em entrevista ao Diário de Notícias (DN).
O número de infeções está a aumentar – na última semana, Portugal chegou a atingir 1816 casos no sábado, e ontem foram 974 – mas não só. A incidência e o ritmo de transmissão também têm vindo a aumentar, e os hospitais voltam a ficar cheios. E já chegados à estação mais fria e com os convívios da época das festas à porta, os números são preocupantes.
Para Manuel Santos Rosa, a batalha ainda não está ganha e é preciso não baixar a guarda. “É só preciso ganhar mais algum tempo ao vírus, até aparecerem as vacinas de segunda geração, que já estão a ser desenvolvidas no sentido de serem bloqueantes da transmissão”, diz. “Só nesta altura, poderemos respirar de alívio e vencer esta batalha”.
Estas novas vacinas, que já estão em fase final de produção nos Estados Unidos da América e na Europa, nomeadamente na Alemanha e Reino Unido, funcionam “à base de microespículas, como se fossem um selo adesivo, que poderão ser já bloqueantes à transmissão e eficazes no reforço da imunidade celular”, explica Santos Rosa. “Só quando isto acontecer é que poderemos respirar de alívio, porque isto quer dizer que ao fim de algum tempo os vacinados deixarão de transmitir o vírus.”
As novas vacinas representam ainda uma mudança porque serão de “administração mais fácil e sem particular aparato vacinal”, continua o imunologista. Não deverão ser injetáveis, mas sim funcionar como um selo adesivo, de aplicação simples, e dispensarão por isso o aparato dos centros de vacinação.
Quando estas vacinas estiverem disponíveis, “teremos uma segurança enorme e, provavelmente, será o fim desta pandemia”, defende Santos Rosa. “Até lá, acho que é fundamental utilizar as armas que temos, que obviamente são as vacinas atuais e, sobretudo, não baixar a guarda quanto às medidas profiláticas”.
As vacinas atuais, “embora sejam muito importantes na redução da doença grave e nas mortes, não criam imunidade de grupo”, mas devem mesmo assim ser utilizadas pois são “a maior arma que temos”. O que deve ser feito, realça o médico, em conjunto com as medidas de proteção individual que já todos conhecemos: uso de máscara, desinfeção das mãos, evitar grandes ajuntamentos e privilegiar a ventilação em espaços fechados.
O imunologista reforça que “é preciso deixar de pensar que a vacinação nos dá imunidade de grupo”. Apesar de úteis, as vacinas atuais apenas protegem contra a doença grave e morte, aliviando a pressão nos hospitais.
“Na minha opinião, este conceito é um equívoco que tem de ser desfeito. Já todos percebemos que as vacinas atuais não são totalmente eficazes a evitar a transmissão do vírus. Isto quer dizer que até poderíamos estar todos vacinados que, mesmo assim, uma percentagem continuaria a transmitir o vírus. A única coisa de diferente é que haveria menos fatalidade e menos pressão nos cuidados de saúde”, explica, ao DN, acrescentando que, tendo em conta a perspetiva muito provável de o vírus continuar a desenvolver mutações que o tornam mais transmissível, será muito difícil ou mesmo impossível atingirmos a imunidade de grupo.
Segundo o imunologista, os fármacos antivirais – alguns já aprovados, outros em fase de aprovação – serão também um instrumento útil para lidar com a pandemia, devendo mesmo estar disponíveis antes das novas vacinas. Estes medicamentos “irão ajudar imenso no combate à doença, não no sentido de bloquearem a transmissão, mas no de aliviar a pressão nos cuidados de saúde”, defende, e se puderem ser tomados logo ao aparecimento dos primeiros sintomas, e no domicílio, eliminarão a necessidade de muitas pessoas receberem tratamento hospitalar.
O desafio, agora, é continuar a vacinar a população elegível que ainda não o fez, apostar na terceira dose e, sobretudo, não baixar a guarda, e fazer “tudo o que pudermos fazer individualmente para evitarmos a transmissão”. “O vírus não pode existir se não encontrar um hospedeiro para se propagar. Se um milhão de portugueses se proteger a nível individual, independentemente de estar ou não vacinado, já estamos a fazer muito, porque todas essas pessoas evitaram a transmissão do vírus, que assim vai desaparecendo”, assegura o imunologista.