O uso obrigatório de máscara ao ar livre termina já no domingo, dia 12 de setembro. O Partido Socialista prepara-se para propor ao Parlamento a não renovação da lei que se encontrava em vigor desde outubro do ano passado e que foi tida como uma das estratégias mais eficazes de mitigação da propagação no novo coronavírus.
Apesar de a não obrigatoriedade ser apenas para espaços exteriores, os especialistas mostram-se reticentes quanto à medida, considerando-a até precipitada tendo em conta a incidência atual do vírus em Portugal.
Em declarações à VISÃO, o investigador do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa Miguel Castanho dá dois motivos: “Primeiro, é que se houver ajuntamentos, de facto, há um perigo muito acrescido da propagação do vírus, creio que a máscara deveria ser obrigatória em situações em que há ajuntamentos; segundo, porque este crescendo de flexibilização de medidas contribui muito para um certo sentimento de que já tudo acabou, mas não acabou porque a incidência está extremamente elevada para esta altura do ano”. O especialista afirma ainda que o verão deveria ter sido a “altura em que deveríamos ter ambicionado baixar a incidência para níveis mínimos, se possível residuais”, mas a verdade é que o número de novos casos manteve-se elevado e, reforça, “atravessamos o pico do verão com dois dígitos, com mais de dez pessoas a morrer por dia e um número de casos extremamente elevado”.
José Alves, pneumologista e presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão defende que o impacto desta medida depende, sobretudo, do “bom senso” e da capacidade das pessoas perceberem até que ponto o seu comportamento é ou não arriscado – para si e para os outros. “Usar ou não usar máscara é uma questão de bom senso”, diz, alertando para o risco de estas iniciativas serem “interpretadas de uma forma errónea, que as pessoas interpretem ‘pronto, acabou, já não há mais problemas, podemos fazer o que fazíamos dantes’. E eu acho que é a capaz de ser ainda um bocadinho cedo para passar essa mensagem”.
A Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública [ANMSP] continua a sugerir que especialmente nesta fase de inverno que vamos entrar, a máscara continue a ser um equipamento de proteção individual utilizado por todos ou quase todos de maneira a que nos possamos proteger não só da covid-19, mas também da gripe”, defendeu Gustavo Tato Jorge, presidente da ANMSP em declarações à LUSA.
As autoridades de saúde defendem que o risco de contágio ao ar livre é baixo, sobretudo tendo em conta que 85% da população portuguesa já tem, pelo menos, uma dose da vacina contra a covid-19. No entanto, Miguel Castanho volta a falar da importância de olhar para a atual incidência da covid-19 em Portugal, pois somente quando esta for consideravelmente mais baixa é que o risco de contágio reduz,. “Outro fator é que temos de ter uma incidência muito baixa, porque se tivermos toda a gente razoavelmente protegida, e as vacinas não protegem a 100%, protegem bastante, sobretudo contra casos graves da doença, precisamos de outro fator de proteção e esse outro fator de proteção é ter níveis de vírus num ambiente que são escassos, é ter poucos vírus a andar por aí e estarmos todos tão protegidos quanto possível pela vacina”, frisa o especialista.
O especialista critica ainda o facto de se olhar para a taxa de vacinação como objetivo, quando esta é, na verdade, “um meio para reduzir a incidência”, podendo não passar a mensagem de forma correta. “Ao mesmo tempo que vacinamos, damos uma ideia de que está tudo resolvido e deixamos cair as outras medidas todas. Ao mesmo tempo que vacinamos, e ainda não se completou a vacinação dos jovens, por exemplo, vemos comportamentos sobretudo entre as camadas mais novas que são altamente propícios ao contágio, porque se deu a sensação de que isto estava tudo para acabar”, diz.
Embora reconheça que se “percebe a atitude do Governo” pelo facto de termos “85% das pessoas vacinadas e teoricamente temos a população protegida”, José Alves defende que é “precoce” anunciar a não obrigatoriedade do uso da máscara, mesmo que seja apenas ao ar livre, e esclarece que “a Fundação Portuguesa do Pulmão é que acha que se deve continuar a usar a máscara nas situações em que não é possível impedir o contacto próximo”.