O processo de desconfinamento da Austrália tem quatro fases, com a terceira a prever uma nova abertura com 80% de população adulta vacinada. Mas um novo relatório com base em modelos de computador mostraque tal decisão pode resultar num total de 25 mil mortes e 270 mil casos de Covid prolongada.
Os dados foram analisados em três importantes universidades australianas e indicam um número de mortes 10 vezes superior ao indicado na análise do Instituto Doherty, que sustenta o plano de reabertura do país. A reabertura com uma taxa de vacinação de 70% poderia resultar em 6,9 milhões de casos de Covid-19 sintomáticos, 154 mil hospitalizações e 29 mil mortes no total.
Caso a Austrália reabra com 80% dos adultos vacinados, o que representa 65% da população em geral, pode haver aproximadamente 25 mil mortes e 270 mil casos de Covid prolongada. Contudo, se o país reabrisse com 80% dos adultos vacinados e todas as crianças inoculadas, as mortes estimadas cairiam para 19 mil ou para 10 mil se 90% dos adultos fossem vacinados.
O Instituto Doherty analisou o número de mortes nos primeiros 180 dias de reabertura nos limites de 70% e 80% de vacinados que representam as fases B e C do desconfinamento e sugere que, com 80% dos adultos vacinados, haveria 761 mortes.
Zoe Hyde, epidemiologista e co-autora do estudo, alertou que a nova análise – que ainda não foi revista por pares – mostrou que era “simplesmente muito perigoso tratar a Covid-19 como uma gripe” e que a Austrália deve atingir taxas de vacinação mais altas antes de abrir.
Os investigadores pedem que só se avance com o desconfinamento quando a taxa de vacinação for de 90% entre todos os australianos, incluindo crianças, e que 95% da população mais vulnerável, incluindo idosos e os povos indígenas, estejam vacinados.
Primeiro-ministro mantém metas de desconfinamento
Ainda assim, o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, incitou os líderes políticos na última segunda-feira a manterem as metas de 70% e 80% de vacinação para se reduzir, até acabar de vez, com os confinamentos. Os estados liderados pelo partido trabalhista ainda têm algumas reservas quanto ao fim do confinamento e às restrições nas fronteiras, devido às altas taxas de transmissibilidade em crianças, ao elevado número de casos em Sidney e às baixas taxas de vacinação entre a comunidade indígena.
A análise do Doherty produziu resultados menos pessimistas devido a diferentes suposições, como, por exemplo, um período temporal mais curto, uma proporção menor de infeções sintomáticas, uma taxa de transmissão mais baixa entre crianças e que testar, rastrear e isolar permanece “parcialmente eficaz”, mesmo com casos diários muito elevados.
Os investigadores da nova análise justificaram a disparidade de resultados relativamente aos do Instituto Doherty com uma utilização de números de hospitalizações e mortes num período de tempo mais extenso. “Isso seria em 2022, em algum momento da fase D, quando há medidas mínimas de saúde pública e nenhum confinamento”, acrescentou Grafton, um dos investigadores, ao Guardian Australia.
A variante Delta também foi indicada como “altamente transmissível entre crianças” e o investigador Grafton argumentou que era um “problema real” excluir cinco milhões de pessoas, com metas de vacinação destinadas apenas à população com 16 anos ou mais.
O Instituto Doherty discordou, concluindo que incluir crianças de 12 a 15 anos “não mudaria substancialmente os resultados gerais de saúde esperados” porque “o número total de australianos que sofrem de doenças graves será semelhante”. A ideia de que “assim que atingirmos 70%, 80% da vacinação, teremos menos transmissão de Covid-19 e menos pessoas com doenças graves e, portanto, menos hospitalizações e mortes” foi reforçada num comunicado do Instituto.
Os investigadores sugeriram vacinar crianças e adolescentes, dar vacinas de reforço de tecnologia mRNA a todos os australianos, incluindo os que tomaram AstraZeneca, e atingir uma taxa de vacinação de 90% no geral e 95% entre as populações vulneráveis. Desta forma, poderia reduzir-se as mortes provocadas por Covid-19 para cinco mil e os casos de Covid prolongada para 40 mil, sugere a análise.