Enquanto a vacinação mundial avança e as terceiras e quartas vagas começam a dar sinais de enfraquecimento, a comunidade científica continua a tentar encontrar uma forma de tratar a Covid-19. Num relatório publicado na semana passada , o grupo de aconselhamento científico do governo britânico alerta, no entanto, que novas variantes podem surgir na sequência da administração de tratamentos antivirais.
“À medida que começamos a usar diretamente medicamentos antivirais, é altamente provável que seja selecionada uma variante com resistência aos agentes individuais” (com as enzimas protease 3C e polimerase ou a proteína spike como alvo específico, por exemplo), explica o Grupo Científico de Aconselhamento para Emergências (SAGE) do Governo britânico, numa análise publicada na última sexta-feira, que serve para avaliar a possibilidade da ocorrência de quatro cenários sobre o comportamento da pandemia.
Usados como “mono-terapia”, é “altamente provável” que estes fármacos levem ao aparecimento de variantes resistentes. O risco? Tornar inúteis todos os medicamentos dessa categoria.
A não ser que a pandemia crie a necessidade do uso de medicação mais abrangente, os especialistas britânicos consideram que este cenário teria apenas um impacto que classificam como “médio”.
Para o evitar, o SAGE aconselha que os medicamentos antivirais sejam usados sempre em combinação de, pelo menos, dois e com alvos ou mecanismos de ação diferentes, que o recurso aos antivirais seja guardado para uma emergência – leia-se, uma variante mais grave do SARS-CoV-2 e sem vacina eficaz, e que o cuidado seja redobrado quando administrados a doentes imunocomprometidos.
Um dos outros quatro cenários aborda a hipótese do surgimento de uma variante capaz de furar a proteção conferida pelas vacinas atualmente em uso, outro debruça-se sobre a possibilidade de uma futura variante provocar doença grave e morte numa proporção muito superior ao que tem acontecido até agora, e, noutro, o coronavírus torna-se semelhante aos que causam as constipações comuns, mas com muito menor gravidade.