“Se as vacinas chegarem mais cedo é uma ótima notícia. É só o que precisamos para começar a trabalhar”. Rui Nogueira, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), reagia assim às várias declarações que davam conta da antecipação de todo o processo de vacinação contra a Covid-19 na União Europeia – antevendo-se que possa começar, ao mesmo tempo em todos os países ainda em 2020.
Primeiro, foi a Agência Europeia do Medicamento a anunciar que poderia dar um parecer favorável à vacina da Pfizer/BioNtech já na próxima segunda-feira, 21, em vez do previsto dia 29. Depois, a Comissão Europeia fez saber que em dois dias poderia dar a sua aprovação a todo o processo – e que este, como sublinhou também a sua presidente, Ursula Von der Leyen, deveria ocorrer em simultâneo nos 27 países da UE. Francisco Ramos, o coordenador da task-force nacional do processo de vacinação, ouvido esta quarta-feira de manhã na comissão parlamentar de saúde, deixou também a garantia: “Começamos a vacinar logo que as vacinas cheguem. Se fosse agora [de manhã], à tarde já teríamos condições para as administrar num qualquer centro de saúde em Portugal”, precisou.
É essa também a convicção do responsável da APMGF, que, em declarações à VISÃO, assegura estar tudo pronto para os médicos de família começarem a chamar as pessoas. Ou mais ou menos: “E digo isto porque soubemos, entretanto, que será preciso ajustar os critérios, já que a Pfizer assumiu uma redução de 20% na sua produção e que isso vai ter efeito na quantidade de doses que tem para entregar”. Ou seja, será preciso definir vários grupos dentro desta primeira fase, já que “não teremos logo para todos os listados como prioritários”. Mas Rui Nogueira considera ainda que “se houver para 75%, já será muito bom”, e que são valores provisórios porque não se sabe ainda qual a adesão ao processo. “Ainda não houve sensibilização oficial da população abrangida e está previsto que seja feita” – e isto mal o plano final de vacinação seja comunicado, o que, confirmou, estará para breve.
“Prioritários serão de certeza os profissionais de saúde e os utentes dos lares”, sobretudo “se pensarmos que ¾ dos óbitos ocorreram em lares e que o grande objetivo é diminuir a mortalidade e os internados em cuidados intensivos”, acrescenta Rui Nogueira, fazendo questão de sublinhar que, passe o expetável alívio das medidas para a época do Natal, os números diários da Covid-19 no nosso País não estão nem perto do desejável. “Temos dez vezes mais internados em UCI do que no verão, e uma média de 500 nos últimos 15 dias, além dos cerca de 90 óbitos diários”.
Outra questão que não está ainda definida é se haverá doses suficientes para a 2ª toma em tempo útil, ou seja, no prazo de 3 semanas. “Embora seja preciso dizer também que, segundo os estudos já feitos, há logo um ganho face aos que não recebem vacina”. De resto, remata Rui Nogueira, não é “nada difícil” vacinar 50 mil pessoas por dia, como está anunciado, contabilizando cerca de 50 por unidade de saúde. Será um processo feito por marcação – “não podemos arriscar ter a porta cheia de pessoas à espera de conseguir uma vacina”, assume – sendo que, quem não vai regularmente ao centro de saúde, deverá será incluído no processo mediante uma declaração médica, depois de contactar o SNS. “É um ponto que ainda não está definido”.
Para já, estão previstos três locais de entrega de vacinas – um no continente, outro na Madeira e outro nos Açores – será a farmacêutica a disponibilizá-las nesses três pontos, e essa localização não será divulgada por motivos de segurança. De resto, como assumiu Francisco Ramos, no parlamento, “não será por falta de capacidade dos centros de saúde que vacinas vão deixar de ser dadas”, sabendo-se ainda que poderão também ser feitas em “unidades móveis”, embora ainda a serem definidas. “Passe os prazos de entrega, ao todo foram contratadas 22 milhões de doses, e isso quer dizer que haverá vacinas para todos os que se queiram vacinar, rematou o responsável do processo, lembrando sempre que “o ato é de caráter voluntário” e que “ninguém será obrigado a fazê-lo”.
O “grande esforço” para que a vacinação na UE comece para todos ao mesmo tempo foi esta quarta-feira igualmente sublinhado pelo primeiro-ministro, António Costa, em declarações prestadas em Paris, onde esteve em reunião com o presidente francês, Emmanuel Macron, numa reunião de preparação da presidência portuguesa da UE, a iniciar em janeiro.
“A Comissão [Europeia] fez um grande trabalho ao assegurar a compra conjunta. Vamos todos ter acesso à vacina em simultâneo”, disse António Costa – mais ou menos ao mesmo tempo em que um porta-voz do governo francês, numa entrevista à televisão BFMTV, garantia publicamente que a França “ia começar a vacinar antes do fim do ano”. Esta quinta-feira, 17, foi a vez de o ministro alemão da Saúde avançar que todos os Estados-membros da UE estão a preparar-se para começar a vacinação no dia 27 de dezembro. No Twitter, Ursula Von der Leyen, garante que será entre esse dia e o dia 29.