É uma poderosa mensagem de alerta do médico intensivista português Gustavo Carona, médico intensivista no Hospital Pedro Hispano em Matosinhos, especialista em cenários de guerra que já esteve em diversas missões humanitárias, e que está a deparar-se com uma vaga crescente de Covid na região Norte.
“Não é tempo para contar historinhas, é tempo para informar. É preciso perceber que o crescimento da pandemia vai destapar uma série de outras doenças, é como uma manta. Estas mais de 7000 pessoas de doentes não Covid, morreram porque a pandemia existe e não porque os médicos deixaram de ter interesse em tratar estas pessoas”, explica num video que colocou no Youtube.
“O que é preciso compreender que o cobertor cresce de um lado, destapa do outro, e a Covid faz o cobertor diminuir”. Este desafio tem contornos nunca antes vistos, e é preciso acreditar nas instituições e nas pessoas que sabem mais do que nós, para perceber a saúde no global, sublinha. “Se desacreditarmos as instituições neste momento, tudo se transforma em caos, em desordem, e é impossível trabalhar para o bem comum nestas situações.”
“O que está em causa é estarmos a começar a falar – ainda não está a acontecer, mas vai acontecer – triagem em medicina de catástrofe”. Que é fazer o máximo pelo maior número de pessoas, mas “assumir que não vamos conseguir fazer tudo”. “Vamos ter de fazer escolhas, quer Covid, que não Covid. Eu sei o que estou a falar. Obriga-nos a fazer decisões que destroem psicologicamente os profissionais”, sublinha o médico que se diz exausto.
Já estamos largamente à frente da primeira vaga. Se olharmos para as curvas, os cuidados intensivos vão atrás. Vamos para o dobro do que foi o máximo da primeira vaga, acredita o médico.
Diz que não tem simpatia especial pelo Primeiro-Ministro, Marta Temido ou Graça Freitas, mas defende as instituições. “É preciso ter uma grande coragem para estar a ser atacado permanentemente por ignorantes que não sabem nada e querem transformar isto numa questão política. Não é! Não me interessa quem está a mandar, mas e preciso respeitar as instituições que nos protegem.” Não é tempo para questionar as autoridades de saúde, “é tempo para respeitar as pessoas e as instituições que mais sabem sobre o assunto”.
“Não é uma apologia do medo, é uma apologia da seriedade e uma apologia do realismo. Isto está a acontecer. Se quisermos contar historinhas, ir atrás dos imbecis, dos negacionistas, dos relativistas e das teorias da conspiração, vamos arrepender-nos! Se não levarmos a sério, isto vai rebentar!”, alerta Gustavo Carona.
A solução está a montante dos hopitais, defende. “É uma matéria de todos nós, na sociedade civil,nas casas, nas empresas, nas escolas. É preciso respeitar as regras, para diminuir o impacto que esta pandemia está a ter.”