O sangue azul do caranguejo-ferradura é a única fonte natural conhecida que contém lisado de amebócitos de Limulus, um extrato de células do animal que deteta endotoxinas, uma substância que pode ser encontrada na membrana externa de algumas bactérias, fatal para a saúde dos seres vivos. Este sangue azul caraterístico tem vindo a revelar-se um elemento crucial para testar inúmeras vacinas, incluindo a do coronavírus, pois se alguma bactéria for encontrada, ele coagula e transforma-se num gel.
No entanto, a utilização do sangue do caranguejo-ferradura para os estudos das vacinas de combate à Covid-19 está a gerar uma onda de polémica no seio da comunidade científica e da conservação ambiental. Todos os anos, diversas empresas farmacêuticas utilizam meio milhão de caranguejos-ferradura do Atlântico para extrair o seu sangue de uma veia perto do coração, e, posteriormente, devolvem-nos ao oceano. O que acontece à maioria dos animais é que acabam por morrer. Esta prática, juntamente com a utilização dos caranguejos como isco para as atividades piscatórias, conduziu a um declínio da espécie na costa do Atlântico nos últimos 10 anos.
A apanha de caranguejos e a extração do seu sangue, consomem muito tempo e recursos, já para não falar dos preços que acarretam. Por isso, em 2016, o Fator C recombinante (Rfc), um teste inovador que também ajuda a detetar endotoxinas, foi aprovado como alternativa ao lisado do caranguejo. No entanto, em junho deste ano, a FDA, o organismo que estabelece os padrões científicos para medicamentos nos EUA, recusou-se a aceitar a rFC como uma alternativa ao lisado, afirmando que a sua segurança não estaria totalmente comprovada.
A preocupação com a conservação da espécie
Os caranguejo-ferradura encontram-se em vias de extinção, daí ser tão importante preservar a espécie ao máximo. Não só por serem seres históricos – antecederam os dinossauros em 200 milhões de anos -mas devido à quantidade de seres vivos que, de facto, dependem deles para sobreviver.
Apesar de os caranguejos-ferradura serem importantes para a busca da cura para a Covid-19, agora o maior problema está na extração do sangue dos animais para estudar as vacinas. Dado que as alternativas disponíveis podem não ser suficientes, isto pode comprometer os caranguejos e os ecossistemas marinhos que dependem deles.
A Lonza, empresa suíça de produtos químicos, afirma que a partir deste mês de julho começará a fabricar uma vacina de combate à Covid-19 para testes em humanos. De modo a evitar o impacto ambiental, algumas empresas fixaram um limite para a quantidade diária de lisado aplicada. É o caso do Charles River Laboratories, um dos laboratórios americanos envolvidos nos testes, que em comunicado à National Geographic declarou que para fazer 5 biliões de doses da vacina, serão realizados 600.000 testes no quais será aplicada a quantidade de lisado criada num único dia. A empresa suíça Lonza diz que está “comprometida em proteger o bem-estar do caranguejo-ferradura”, por exemplo, “apoiando ativamente os esforços de conservação”.