Considera-se já um efeito colateral positivo do distanciamento social. A medida destinada a retardar a disseminação da Covid-19 também reduziu a época da gripe em cerca de seis semanas. A grande culpada? A nossa adesão às estratégias de proteção individual – isolamento e etiqueta respiratória, a par do encerramento de escolas, restaurantes e outros locais públicos.
Mas valeu-nos sobretudo o facto de as autoridades de saúde terem enfatizado várias vezes a importância da lavagem das mãos. É que estas medidas simples de saúde pública também se aplicam para limitar a propagação de doenças respiratórias no geral.
Segundo as contas avançadas pela Nature, em todo o mundo morrem anualmente entre 290 mil a 650 mil pessoas devido à gripe sazonal. Assim, uma época de gripe mais curta traduzir-se-ia, à partida, em dezenas de vidas poupadas. Será, obviamente, difícil distinguir esse impacto, perante o enorme número de mortes por Covid-19. Mas uma análise mais detalhada à evolução da gripe e outras doenças assim contagiosas pode revelar mais sobre a eficácia das políticas de saúde pública destinadas a interromper a pandemia.
Dados semelhantes em mais de 70 países
Normalmente, os casos sazonais de gripe no hemisfério norte atingem o pico em fevereiro e terminam no final de maio. Este ano, pelo contrário, esses números caíram vertiginosamente logo no início de abril, poucas semanas depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter decretado a pandemia.
É o que revelam testes de mais de 150 mil amostras de laboratórios nacionais de influenza, em 71 países, que comunicam os seus dados ao FluNet, um sistema global de vigilância da gripe. E digamos que foi uma boa surpresa. Afinal, em janeiro, antes de o SARS CoV-2 ter dado sinais de vida, esperava-se uma das mais severas épocas da gripe das últimas décadas.
Claro que existem outras contribuições para esta redução tão acentuada. Por exemplo, pessoas com sintomas de gripe podem ter evitado o sistema de saúde por completo – e isoladas em casa obviamente que não aparecem nas estatísticas. Mas, segundo avança a Nature, os especialistas da OMS estão muito mais convencidos do peso da resposta à pandemia.
“Menos movimento a par de mais distanciamento e higiene pessoal são medidas que terão sempre efeito na transmissão do influenza e de outros vírus respiratórios”, enfatiza aquela organização – depois de lembrar que se tinha sentido um declínio semelhante depois da epidemia de SARS em 2003, sobretudo nos países mais afetados.
Mas não só: afinal, outras doenças infeciosas também foram afetadas, como sublinhou o coautor dessa análise, divulgada pelo British Medical Journal (BMJ). Investigador na Universidade de Hong Kong, Pak-leung Ho foi então comparar os casos de sarampo e rubéola na região, que em abril foram mesmo os mais baixos do mundo desde 2016. E assinala: “Com o encerramento das escolas, era um impacto no mínimo expectável.”