É o pesadelo de todos os pais de recém-nascidos, é a razão por que pediatras e enfermeiros insistem na importância de deitar o bebé de costas e sob vigilância nos primeiros meses. A Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL) é tão assustadora como o seu nome, sobretudo porque as suas causas, apesar de todos os avanços e estudos – e de uma considerável diminuição no número de casos ao longo dos últimos 20 anos – continuam a ser um mistério.
A maioria das mortes por SMSL acontece entre os dois e os sete meses de idade (90%), embora a sua definição abranga os óbitos inexplicados até aos 12 meses. As estatísticas internacionais apontam para uma prevalência de dois casos por cada mil nascimentos, com os dados conhecidos em Portugal a rondarem os 0,1/0.2 por cada mil nascimentos.
Depois de um estudo de 2010, publicado no Journal of the American Medical Association, ter descoberto uma ligação entre a SMSL e níveis baixos de serotonia no cérebro, uma nova investigação focou-se nos níveis do mesmo químico neurotransmissor (que regula desde a respiração ao humor e ao sono, passando pelo apetite e até a sensibilidade a dor) mas no sangue e concluiu que estavam muitos elevados em quase um terço dos 61 bebés cujas mortes foram classificadas como SMSL.
O novo estudo, publicado esta semana no Proceedings of the National Academy of Sciences, aliado aos anteriores, sugere que níveis mais elevados ou mais baixos de serotonina, consoante a parte do corpo, podem indicar uma vulnerabilidade que aumenta o risco de morte súbida do bebé.
“Esta é uma descoberta muito empolgante”, congratula-se Rosemary Higgins, neonatologista do Instituto Nacional americano da Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano. “É necessário fazer mais investigação, mas pode levar a um teste forense para distinguir as mortes por SMSL de outras causas de morte infantil”, adianta.
Parte da dificuldade de quantificar as mortes devidas à síndrome vem do facto de, atualmente, mortes, por exemplo, por sufocamento acidental, serem contabilizadas como SMSL. Daí que a possibilidade de um teste determinar os óbitos que podem verdadeiramente ser classificados como SMSL represente um avanço significativo e uma forma de ajudar os médicos a compreender a síndrome. A muito longo prazo, sublinha Higgins, o teste abre caminho para o desenvolvimento de uma forma de testar recém-nascidos considerados de risco.
Os investigadores sublinham que testaram apenas os níveis de serotonina, pelo que desconhecem se os 19 bebés com níveis anormalmente elevados do neurotransmissor tinham quaisquer outros problemas em comum.