Apesar dos nervos, Simão não se atrapalhou com as perguntas e satisfez a curiosidade acerca de Jel, ou melhor, Nuno Neto, o nome verdadeiro do humorista que, com o irmão Vasco Neto, compõe os Homens da Luta.
Juntos, criaram as personagens Neto e Falâncio, dois revolucionários que aparecem nos sítios mais inesperados e falam dos problemas do país com bom humor.
Simão foi do Castêlo da Maia, no Porto, até Lisboa para se encontrar com Jel (Nuno Duarte) e, apesar da viagem longa, não teve dúvidas: “valeu mesmo a pena.”
Sabe mais sobre os Homens da Luta na edição de Julho da VISÃO Júnior e lê as perguntas principais na revista. Aqui, publicamos apenas as que não couberam.
Quando é que decidiram dedicar-se á luta?Há seis anos criámos estes personagens por acaso, começámos por brincadeira. Depois, como tínhamos um programa de televisão, decidimos começar a experimentar estes personagens, vestidos como se estivéssemos em 1970, e durou até agora.
Os nomes têm a ver com a história da nossa família. O Neto era o nosso avô, era a alcunha dele. Ele era comunista [membro do Partido Comunista Português], e então decidimos que um dos personagens, o que eu faço, seria o Neto. Depois, o meu avô tinha um amigo que era o Falâncio, e este nome ficou-nos na memória porque é muito invulgar. Nunca mais conheci ninguém com este nome. Ele nem era comunista, era só um amigo, mas achámos que seria um bom nome para um personagem de comédia.
São muito populares na internet. Gostam muito das redes sociais?Mais do que gostarmos das redes sociais, elas são um veículo importante para comunicarmos com os nossos fãs. É uma forma de mostrarmos o nosso trabalho, tudo o que fazemos está na internet. Quem gosta de nós só precisa de ir lá para nos ver.
Quando participaram no Festival da Eurovisão falaram com muitos jornalistas estrangeiros. Quais eram as perguntas que vos faziam mais vezes?Faziam-nos muitas perguntas relacionadas com a situação do nosso país. Infelizmente, as notícias que passam lá fora são sobre a nossa crise e a falta de dinheiro. Perguntavam-nos quais eram as nossas ideias e se acreditávamos no que estávamos a cantar. Tínhamos de explicar que somos um número artístico, falamos da crise e dos problemas das pessoas de forma divertida.
Têm saudades do antigo Primeiro-Ministro, José Sócrates? Chegaram a Conhecê-lo?
Estivemos várias vezes com ele, mas nunca o chegámos a conhecer pessoalmente. Usámos muito a ironia com Sócrates, dizíamos “obrigado por todos estes problemas”, porque nos dava razões para a luta, para reclamarmos. É mais forte a ironia do que dizer mal directamente. Até lhe fizemos uma música de despedida. Nós achamos que ele não fez um bom trabalho. No entanto, foi bom para a luta. Trouxe pessoas para a rua e muita contestação. Por isso, agradecemos-lhe.
O que acham do novo Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho?
Ou muito me engano, ou vai ser parecido com o anterior. Espero estar enganado, gostava que ele fosse um primeiro-ministro muito bom e que acabasse com os problemas todos. Se calhar éramos obrigados a acabar com a luta, mas ficávamos todos melhor.
Aparecem em muitos sítios para onde não são convidados, como é que conseguem entrar?Às vezes não conseguimos entrar, mas improvisamos. Uma parte importante dos Homens da Luta é aparecerem onde não são chamados, mas já sofremos consequências, ir para a esquadra, termos de fugir, processos em tribunal… Mas vamos continuar a aparecer onde não somos chamados.
O que sentem ao receberem tanta atenção?Duas coisas. Primeiro, há uma parte boa. Vemos o nosso trabalho reconhecido e as pessoas tratam-nos muito bem na rua. Outra parte que não é tão porreira, é que é mais difícil estar à-vontade. Antigamente era mais fácil ir aos sítios porque ninguém nos conhecia.
No geral, a atenção é positiva. Se ao fim de tantos anos não tivéssemos atenção era sinal que não estávamos a fazer bem o nosso trabalho. Ao recebermos tanta atenção poderíamos começar a levar-nos demasiado a sério, mas isso não acontece, os Homens da Luta são personagens de ficção. Somos artistas como os palhaços de circo.