Que trabalho é que cada uma das escritoras faz?
Rodrigo Lopes, EBI Patrício Prazeres
AMM: Fazemos a pesquisa juntas. Quem escreve, sou eu, porque a minha letra percebe-se melhor. Depois, entregamos o livro a uma rapariga chamada Louisa Chibante para ela passar o manuscrito a computador. Mas se eu me aleijar na mão, posso passar a caneta à Isabel. O trabalho é uma leitura dialogada: eu digo uma frase, a Isabel diz outra, e vamos registando.
Como selecionam os temas?
Vasco
AMM: Os temas têm de estar de acordo com o sítio onde se passa a historia. Por exemplo, em Uma Aventura no Supermercado, um dos objetos que entra na história é uma pasta de dentes. Tem lógica: não íamos pôr uma pasta de dentes na Amazónia ou um índio num supermercado português. Cada lugar mostra o tipo de problemas ou assuntos que podem ser tratados. Em Timor, como os habitantes gostam muito de música, tocam instrumentos como tambores e flautas, e cantam em muitas línguas, achámos que era muito giro escrever sobre um mega concerto em Timor e honrar esse amor deles à música.
Li Uma Aventura no Pulo do Lobo e gostei muito. Depois de ler o livro, fui visitar Mértola e o Pulo do Lobo. Porque fizeram uma história em pleno Alentejo?
Francisco Duarte Gil
AMM: Na mesma semana, recebemos três cartas de leitores de sítios completamente diferentes do país, a proporem uma aventura no Pulo do Lobo. Não conhecíamos o lugar mas achámos que, se tanta gente dá esta sugestão, se calhar é giro. Então resolvemos ir lá conhecer e ver se o Pulo do Lobo se adaptava a uma aventura. Considerámos que sim.
E porque é que escolheram a ilha de Timor para outra aventura?
Iva Matos, 9 anos, Guimarães
IA: Já tínhamos sido várias vezes desafiadas por pessoas de Timor para aí escrever uma aventura. Não tivemos oportunidade antes para viajar até lá, pois é longe e a pesquisa exige tempo para compreender os hábitos dos habitantes. Dessa vez, conseguimos corresponder a esse desafio.
AMM: Vejam só a época em que a gente vive. Para lá chegar, demora-se 24 horas a voar. E nós achamos: “Eh, tanto tempo…” Mas, ao ler coisas escritas pelos nossos antepassados que iam para Timor, vimos que demorava um ano a navegar até lá. Tornámo-nos muito impacientes no século XXI…
Antes de considerarem o livro concluído, costumam lê-lo a alguém em especial?
Turma 5º D, Escola Básica e Secundária Ferreira de Castro, Oliveira de Azeméis.
AMM: Agora, não. Nós próprias é que lemos o livro até ao fim, a ver se está tudo certo. Porque, às vezes, pode haver algo errado: dissemos que a casa não tinha janelas do lado esquerdo, e depois alguém saí pelas janelas do lado esquerdo. Há sempre pormenores a serem afinados.
O que fazem nos tempos livres?
Simão Bento
IA: Nós gostamos muito de ler. Somos leitoras ávidas, andamos sempre à procura de livros, de autores que já conhecemos, de autores que não conhecemos. Mas gostamos de muitas outras coisas: gostamos de música, de estar com a família, de passear. Pessoalmente, gosto muito de fazer jardinagem. Nunca nos aborrecermos por não ter o que fazer. O nosso problema é que o tempo é sempre pouco. Tanto uma como outra, quando acordamos pensamos logo em sete ou oito coisas para fazer.
AMM: Eu também gosto muito de ir à praia. Mas tenho um problema: o meu marido detesta. Então, temos que negociar: uns dias de praia, uns dias de campo, uns dias de praia, uns dias noutra cidade.
IA: Também gostamos de teatro e vamos muito a concertos. Aproveitamos bem o tempo.
Que livros gostavam de ler durante a adolescência?
8º ano, turma A, Agrupamento de Escolas Professor Egas Moniz
IA: Quando tínhamos a idade das personagens de Uma Aventura, líamos histórias deste género. Depois, tanto uma como a outra começámos a gostar de histórias policiais. E, a certa altura, começamos a apreciar todo o tipo de romances, contos, poesia, artigos de divulgação cientifica… E gostamos também de ler livros de historiadores que nos contam as suas conclusões quando investigam uma certa época.
Ao escrever, sentem-se mais jovens?
Ana Margarida Batista Guedes, 12 anos, Eb2-3 do Peso da Régua
AMM: Ao escrever, a minha cabeça e a da Isabel têm de funcionar como se tivéssemos a idade dos leitores. `As vezes, até nos obrigamos a refazer os textos: deixa cá ver se esta é o tipo de frase que é entendida e que agrada a quem tem 10, 11, 12 anos. Isso obriga-nos a pôr o cérebro a funcionar.
IA: Quando éramos mais novas, éramos bastante aventureiras. E, muitas vezes, conseguimos lembrar-nos de situações que vivemos nessa altura. Uma vez, estávamos a escrever uma história em que as nossas personagens tinham que ir ao telhado. Eu lembrava-me muito bem de como é que tinha posto os pés no telhado para conseguir não cair lá em baixo. Claro que a minha mãe, nessa altura, não sabia que eu estava no telhado. Há pouco tempo, os meus netos quiseram ir ao telhado da minha casa, e o avô disse: “Nem pensar.” Mas eu disse-lhes: no verão, eu levo-os ao telhado e explico como e que devem pôr os pés para não cair.
A História de Portugal parece ser um elemento fundamental na escrita da maioria dos vossos livros. Porquê?
Guilherme, 9 anos
AMM: Fomos ambas professoras de português e de história de Portugal. Se calhar, se fosse professora de ciências, puxava mais por temas científicos. Mas eu gosto imenso de história e qualquer professor dessa disciplina gostaria de ter uma máquina de viajar no tempo, para pegar nos alunos e ir ver o que aconteceu, em vez de estar só a contar.
Com quem gostariam de passar uma tarde a conversar?
Turmas do 8º C e 8º D, Escola EB23/S Josefa de Óbidos
IA: Nós somos muito conversadoras e gostamos de conversar com pessoas de várias idades. Quando vamos às escolas falar com os alunos, é sempre um grande prazer. Mas também gostamos de falar com pessoas da nossa idade, com pessoas mais velhas. Temos gosto por comunicar com todo o tipo de seres humanos.
Dos muitos países que visitaram, qual foi o vosso preferido?
Catarina Ferreira, 14 anos, Maia
IA: Não sei. Todos os países têm um grande encanto, se formos lá com a ideia de os conhecer mais profundamente, de contactar com as pessoas, de perceber o que é que há de interessante.
AMM: A Amazónia foi uma experiencia fantástica, diferente de todos os outros sítios no mundo. Cabo Verde também foi uma viagem giríssima. Eu repetiria todas as nossas viagens menos uma: a que fizemos ao deserto. Houve um momento em que achei que nos iríamos perder no deserto do Sara.
IA: Sim, porque não se viam nem carros nem gente nem nada. Eram quilómetros e quilómetros… E, de repente, lembrámo-nos: “Se o carro parar aqui, nunca mais nos encontram.” Até porque nos tinham contado que o jeep de um viajante francês se tinha perdido e que ele nunca mais tinha sido encontrado. Foi uma sensação inquietante.
AMM: O meu marido é que ia a conduzir o carro onde íamos os três. Só quando chegamos ao oásis, é que confessámos todos o que nos tinha passado pela cabeça: “E se o carro avaria, quando é que passará alguém que nos salve? E se houver uma tempestade de areia, e desaparecemos engolidos pelo deserto? Mas quem é que nos mandou vir para aqui?” Foi uma recordação forte mas, ao deserto, eu só volto obrigada.
Biografia
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada nasceram em Lisboa. A primeira tem 65 anos, foi a primeira de cinco irmãos, e durante muito tempo não soube qual era a sua vocação. Estudou filosofia, casou aos 21 anos, e descobriu que queria ser professora por acaso, quando deu aulas em Moçambique. A segunda, Isabel Alçada, tem 61 anos, é a primeira de três irmãos, também estudou filosofia e foi igualmente professora de Português e História no 2º ciclo. Entre 2009 e 2011, foi Ministra da Educação. Em 1976, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada conheceram-se à porta da Escola Fernando Pessoa e tornaram-se amigas, pois tinham muitas coisas em comum: infâncias felizes, com muitos primos, brincadeiras e actividades extra-curriculares. Seis anos depois, escreveram o seu primeiro livro a quatro mãos: Uma Aventura na Cidade. A coleção já soma 53 aventuras. E originou uma série de televisão e um filme. Mas as autoras escreveram muitos outros livros, alguns sobre história de Portugal. “Adoramos o que fazemos”, dizem elas.