A segunda semana do mês de Dezembro foi particularmente rica em contradições políticas sobre a política industrial e ambiental. De um lado, o Ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, e do outro, a Ministra do Ambiente, Assunção Cristas e o próprio Vice-Presidente do PSD e ex-secretário de Estado do Ambiente, Jorge Moreira da Silva.
O primeiro, cossignatário de um documento subscrito por vários ministros europeus sobre competitividade, resolveu ir mais longe e afirmar que “ao nível das regras ambientais e doutras regras obviamente que sejam importantes, a Europa não seja mais papista que o papa em relação a outras regiões do globo”.
Como reação, os restantes intervenientes mencionados, consideraram que as declarações do Ministro não estavam em linha com o que o Primeiro-Ministro havia afirmado na recente Conferência Rio+20, ou mesmo que eram declarações ultrapassadas.
Realmente, quando da preparação e nos próprios trabalhos da Conferência no Rio de Janeiro que no passado mês de Junho reuniu os chefes de Estado e de governo de muitas dezenas de países no Brasil, foram um conjunto de estudos das Nações Unidas, da União Europeia, de meio empresarial à escala global (o WBCSD), que vieram alertar para a necessidade de fazer uma aposta clara num desenvolvimento que assegurasse a salvaguarda dos valores ambientais e sociais, no quadro de uma chamada economia verde.
Na declaração final “O futuro que queremos”, consensualizada por todos os países e apesar de muito genérica, há um conjunto de orientações muito claras sobre áreas prioritárias de investimento, em particular eficiência energética, energias renováveis, reciclagem de materiais, produção agrícola de qualidade e com menor uso de agroquímicos, florestas, pescas, reabilitação urbana, entre outras capazes de dinamizar o emprego e a salvaguarda do ambiente.
Todos os documentos à escala mundial, mas em particular à escala Europeia, insistem que o verdadeiro desafio não está na aposta nos setores industriais tradicionais – que podem ser relevantes durante alguns anos, mas não serão determinantes num futuro longínquo porque se baseiam em recursos finitos e numa exploração com elevados impactes ambientais – mas sim nas áreas cuja regeneração e a mais-valia pelos serviços prestados à humanidade acabem por ter um valor intrínseco muito mais elevado numa análise integrada e de ciclo de vida dos produtos associados.
Sabemos que os custos de degradação para as populações e para os ecossistemas de uma indústria que não tenha elevados patamares ambientais, é uma indústria menos eficiente, menos competitiva, e cujo futuro estará sempre em causa em mercados cada vez mais exigentes, e cujas respetivas consequências sairão muito mais dispendiosas do que uma aposta diferentes logo de raiz.
Assim, ao invés de baixarmos a fasquia para nos tornarmos supostamente mais competitivos, a visão da sustentabilidade é aquela que olha muito para além da atual crise, e que por isso mesmo percebe que a qualidade de vida na Europa só se constrói através da preservação da biodiversidade, da paisagem, dos recursos naturais, de políticas energéticas que apostem numa maior independência energética do exterior associada a menores emissões, apostando numa produção e consumo mais racionais que são distribuídos de forma mais equitativa pela população.
Que é importante exigir de outros países um maior respeito por valores sociais e ambientais, sem dúvida que sim e não é fácil. Ameaçar com o papão da deslocalização de empresas por razões ambientais, é algo que faz realmente parte do passado, nomeadamente aquando da introdução do mercado europeu de emissões de dióxido de carbono em 2005, e vários estudos mostram que não foi essa a razão de fecho ou saída de algumas indústrias.
É certo que o caminho e as mudanças estruturais terão de ir mais longe que uma mera economia verde, mas regressar a uma linha de pensamento que culpa o ambiente pela falta de desenvolvimento é de quem pelos vistos precisa de se atualizar, até em termos económicos.
Reindustrialização? Sim, mas só se for verde.