Se não é dado a elevados níveis de adrenalina, não desista. Respire fundo! A Mata do Jardim Botânico, onde o Sky Garden está instalado, é o sítio ideal para encher os pulmões de ar.
Tem vegetação densa, árvores centenárias, espécies exóticas. Natureza em estado puro, onde os monges beneditinos encontraram em tempos um espaço de meditação.
Stress, medo? Nem pensar! Afinal, ninguém é obrigado a subir ao interminável eucalipto e dar um passo em frente para experimentar a sensação de queda livre a 13 metros de altura. Ou a aventurar-se no comprido slide que conduz até ao outro lado do vale, com direito a uma vista única sobre o Mondego e o bambuzal da Mata (dizem-nos…). Isso são extras reservados aos mais destemidos.
Durante a maior parte do tempo, o grande desafio é ultrapassar pequenas distâncias entre árvores (algumas parecem maiores que outras, é certo), saltando de plataforma em plataforma e superando diferentes obstáculos.
Dito assim até parece fácil, mas confessamos que só tomámos a decisão de vestir o equipamento obrigatório (colete, arnês, capacete) e aventurar-nos nas alturas depois de assistir ao briefing e de nos ter sido explicado o dispositivo de segurança. A vez em que ficámos pendurados a meio de um cabo, 150 metros acima do solo, foi há mais de dois anos mas continua bem presente na memória…
O Sky Garden tem um dos melhores sistemas de segurança da Europa, o Roperoller, que faz com que em nenhum momento, durante os 783 metros (o cumprimento total dos cinco percursos), o visitante deixe de estar ligado à chamada linha de vida, que o prenderá em caso de desequilíbrio. O que parece um pormenor quando se está a apenas três metros do solo (no percurso mais fácil, para crianças e principiantes), ganha relevância quando se luta para manter o equilíbrio por entre as copas das árvores, a quase 15 metros de altura. Encoraja, também, saber que há um cabo de emergência, por onde, em caso de necessidade, os monitores podem chegar aos visitantes e descerem-nos até pisar terra firme em apenas três minutos.
Com o relógio a caminhar a passos largos para as cinco da tarde (hora de encerramento), iniciamos a aventura no percurso dos animais, de nível intermédio. Cada uma das árvores que sustém a plataforma representa o ninho de um animal e pode ficar a conhecer-se melhor os hábitos de aves ou insetos que frequentam o Botânico, como o milhafre-preto, o mocho, o esquilo ou a abelha.
Será informação a reter numa segunda visita… O ligeiro tremor nas pernas, a concentração para não ceder ao medo das alturas, impossibilitam-nos de prestar atenção a algo que não se relacione com as instruções dadas pelos monitores.
Apesar de lá no alto a perceção não ser exatamente a que agora se escreve, há que dizer que o mais fácil acabam por ser os curtos slides entre árvores. Aí, ultrapassada a resistência do impulso inicial (para iniciar o deslize) basta deixar-se levar seja presos diretamente na corda, metidos numa cesta feita de pneus, ou sentados numa cadeira de madeira. De resto, há uma infinidade de caminhos suspensos, que nos obrigam a andar no meio do nada sobre estruturas diversas, mas sempre instáveis. Pode ser uma simples corda, pequenos troncos, pneus.
Mas pode, também, ser uma rede em que somos obrigados a mexer-nos como aranhas, um túnel que é preciso atravessar de gatas ou uma bicicleta para pedalar sobre um cabo de aço, qual equilibrista num circo.
APROXIMAR AS PESSOAS
A primeira vez que Helena Margolis visitou um parque do género foi há três anos na Alemanha o seu país e, na Europa, aquele onde o arborismo está mais implementado. Um amigo prometeu mostrar-lhe “algo espetacular “. Ela não conseguiu vencer o medo.
À terceira plataforma desistiu, desceu à terra, mas passou duas horas a observar a dinâmica: “Era tudo tão espetacular e bonito, emocional, mental, socialmente”, recorda. Psicoterapeuta, foi fácil deixar-se fascinar pelo que via: “Os mais novos ajudavam os mais velhos, alguns chegavam com toda a força mas depois tinham medo. Achei que era uma experiência que ajudava a ter respeito pelo ambiente e por tudo o que nos rodeia.” Queria viver no Sul da Europa, já conhecia Portugal e “porque tem muito espaço para respirar” pensou que seria o país certo para montar um parque do género. Erguer o Sky Garden não foi pequena aventura. Esbarrou em burocracias, até que Helena Freitas, a diretora do Botânico, viu no projeto uma mais-valia para o Jardim e lhe abriu as portas.
Apesar das críticas que ouviu, a diretora está convencida que se trata de um projeto muito bem elaborado e perfeitamente compatível com o Jardim Botânico: “Não tem de ser só um espaço bucólico, pode ser um espaço com movimento”, diz, lembrando que do ponto de vista ambiental foram tomados todos os cuidados. Além de permitir ao público entrar numa área até agora vedada, a Mata (com muitas espécies exóticas, uma coleção notável de árvores da família dos eucaliptos e joias arquitetónicas como a Capelinha de São Bento ou a Fonte dos Três Bicos, para além dos trilhos que ficaram do tempo dos Monges Beneditinos), o Sky Garden trará Helena está convencida mais pessoas ao Jardim e contribuirá para o tornar autossustentável.
Helena, a alemã, surpreendeu-se quando viu o espaço: “Perdi a respiração, era tão selvagem.” Em maio, a empresa alemã Onthe-Ropes começou a construir o parque.
Os técnicos, habituados a ver muitos, não pouparam elogios a este, pela diversidade de árvores, a vegetação densa, que obrigou a um grande trabalho de limpeza da floresta.
O Sky Garden ocupa um hectare e meio dos 13 hectares da Mata do Botânico e inaugurou a 15 de setembro.
Entretanto, Helena venceu o medo das alturas. Fez o curso da European Rope Corse Association. Mas o que a move, mais do que levar a melhor às vertigens, são as pessoas: “As pessoas felizes são mais conscientes, não fazem coisas más”, diz num português com sotaque alemão. Ainda hoje é capaz de passar horas a ver a forma como os visitantes interagem nas alturas: “Em momentos de desafios físicos e emocionais, as pessoas comunicam umas com as outras sem máscara. É uma comunicação direta que as aproxima”, observa.
Se não vencer o medo, este é um plano ao alcance de todos, corajosos ou não. Para ver a Mata e apreciar o espetáculo nas alturas não é preciso pagar bilhete. Se acabar por se pôr à prova, não deixe, como no nosso caso, que a tensão o impeça de desfrutar da liberdade de voar entre árvores, do conforto que abraçar uma árvore pode dar, da proximidade do céu…
- Adrenalina nas alturas
Além dos cinco percursos de arborismo (um de iniciação, dois médios e dois avançados), há o Valley Slide (um slide de 259 metros) e o Powerfan (um salto de uma árvore a 13 metros de altura, apenas com um dispositivo que permite abrandar ao chegar ao solo).
Nota: A atividade não é recomendada a pessoas com problemas de coração, epilepsia e grávidas. A altura mínima é 1,40 metros e o peso máximo 120 quilos.
SKY GARDEN
Jardim Botânico de Coimbra
Calçada Martim de Freitas
T. 91 666 5449
Novembro: Sáb-Dom 10h-17h30, €13-€24