Um novo estudo realizado por uma equipa de investigadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, sugere que a mistura de microplásticos e de PFAS – substâncias perfluoroalquiladas – está a tornar as substâncias mais perigosas para o ambiente e para os seres vivos. Para o estudo, publicado recentemente na revista científica Environmental Pollution, a equipa utilizou uma amostra de dáfnias – também chamadas de pulgas de água -, um animal que possui uma elevada sensibilidade a produtos químicos e que é frequentemente utilizado pela ciência para estudar níveis de toxicidade ecológica. Os insetos foram divididos pelos investigadores em dois grupos – um primeiro que nunca tinha sido exposto a poluição e um outro que já tinha estado em contacto com substâncias quimicamente tóxicas.
Os grupos foram depois expostos a pedaços de microplásticos – mais especificamente aos PET, um plástico comum – e a substâncias PFAS – nomeadamente as PFOA e PFOS, as mais comuns e perigosos – de forma a simular as condições de poluição frequentemente encontradas em lagos. De acordo com as conclusões da pesquisa, a mistura de ambos dos produtos plásticos e dos PFAS teve mais efeitos nocivos para a saúde do que aqueles observados de forma isolada. Os cientistas conseguiram verificar um aumento de 40% da toxicidade, que se ficou a dever a uma sinergia que se estabeleceu entre as substâncias e que as deixou ainda mais perigosas. De acordo com os autores este efeito sinergético é uma consequência da interação entre as cargas dos microplásticos e dos compostos PFAS.
A exposição dos animais à mistura de substâncias teve consequências graves na sua saúde, incluindo taxas de natalidade mais baixas e problemas de desenvolvimento. Foi também possível verificar que as pulgas que já tinham sido expostas à poluição química anteriormente foram menos capazes de resistir às novas exposições.
As substâncias perfluoroalquiladas (PFAS) – também conhecidas por “químicos eternos” – são compostos químicos sintéticos normalmente utilizados em processos industriais e no fabrico de vários produtos resistentes à água e ao calor, por exemplo, por não se degradarem facilmente. Estão cientificamente associados a patologias como o cancro, doenças renais, problemas hepáticos, defeitos congénitos e a outros problemas de saúde graves.
Já os microplásticos – sejam os intencionalmente adicionados a produtos ou os que são libertados à medida que o plástico se vai deteriorando – são muito encontrados em, por exemplo, alimentos, e estão ligados – segundo a ciência – a perturbações hormonais, doenças cardiovasculares e outros problemas de saúde. Muitas vezes os plásticos são tratados com as PFAS, pelo que podem conter o químico.
Geralmente, os efeitos nocivos dos microplásticos e das PFAS são investigados de forma separada, contudo, tanto os seres humanos como os animais, encontram-se expostos a ambos. A equipa acredita que as novas descobertas “sublinham a necessidade de compreender os impactos das misturas químicas na vida selvagem e na saúde humana”, escreveram no estudo. “A nossa investigação abre o caminho para outros estudos sobre o impacto dos PFAS na função genética, ao dar informações cruciais sobre os seus efeitos biológicos a longo prazo”, lê-se.