Uma nova investigação, realizada por investigadores da Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos, concluiu que os bonobos, primatas também conhecidos por chimpanzés-pigmeu, têm a capacidade de criar laços estratégicos com membros de grupos diferentes, qualidade que, até há pouco tempo, os cientistas pensavam ser apenas dos humanos.
De acordo com a equipa, esta espécie ameaçada de extinção, que vive em locais remotos da República Democrática do Congo, tem a capacidade de selecionar alguns indivíduos e criar laços fortes com eles, partilhando até alimentos e outros recursos, tal como os humanos
“Eles interagem preferencialmente com membros específicos de outros grupos que têm maior probabilidade de retribuir o favor, o que resulta em fortes laços entre indivíduos pró-sociais”, explica, citado pela Sky News, Martin Surbeck, autor principal do estudo e professor de biologia evolutiva humana.
“Os bonobos mostram-nos que a capacidade de manter relações pacíficas entre grupos, ao mesmo tempo que cria atos de pró-socialidade e cooperação entre membros de grupos diferentes, não é exclusivamente humana”, acrescenta o autor.
As observações da equipa permitiram perceber que estes animais apresentam, de facto, “níveis notáveis de tolerância entre membros de diferentes grupos”, tendo sido vistos a descansar e alimentar-se juntamente com elementos de grupos diferentes.
Porquê os bonobos?
A equipa de investigação observou, durante dois anos, dois pequenos grupos de bonobos (31, no total) que passavam cerca de 20% do tempo juntos, analisando quase 100 encontros destes grupos. A partir dessa análise, os investigadores encontraram indivíduos de diferentes grupos envolvidos em interações amigáveis e cooperativas, explicam.
Além disso, a equipa do estudo, publicado na revista Science, observou bonobos de diferentes grupos a cuidarem uns dos outros e a partilharem alimentos e embora tenham observado algumas interações mais agressivas, nenhuma delas mostrou ser potencialmente mortal.
Estas observações foram possíveis graças a um trabalho em conjunto com a população local de Mongandu, em Kokolopori, uma comunidade no território de Djolu, na província de Tshuapa, na República Democrática do Congo, que permitiu criar a Reserva de Bonobos de Kokolopori, idealizada precisamente para o estudo.
A maioria das investigações existentes relativamente ao comportamento dos primatas tem-se focado nos chimpanzés, já que são mais fáceis de estudar do que os bonobos devido à localização dos seus habitats.
Contudo, estes animais são mais agressivos relativamente aos bonobos e as relações entre diferentes grupos são frequentemente hostis e podem resultar em agressões mortais, explica a equipa. Por isso mesmo, assumiu-se que a hostilidade e a violência de grupo são inatas à natureza dos modelos anteriores da evolução humana.
“As nossas descobertas mostram que a cooperação entre indivíduos não relacionados entre grupos sem recompensa imediata não é exclusiva dos humanos e sugere que tal cooperação pode surgir na ausência de normas sociais”, escrevem os autores, na investigação.