“Antes da pergunta sobre a viabilização do Orçamento de Estado da coligação PSD/CDS, outras perguntas se impõem…” A frase, de António Costa, encerra um mundo de possibilidades. Por exemplo: o PS viabiliza o programa de governo da coligação? Não, se tiver uma solução alternativa. O PS admite aprovar medidas que estejam contra o seu programa? Não. Oiça, dr. Pedro Passos Coelho. Mas oiça, também, dra. Catarina Martins.
Era difícil, a posição do líder do PS, depois de o BE e de a CDU terem dito que o governo da direita só passará se o PS o consentir. Ou António Costa se demitia, e a decisão que fosse de outros, ou se mantinha, e a bola seria devolvida: “Não entro em maiorias negativas que não sejam geradoras de um governo alternativo”, disse, por estas ou por palavras semelhantes, o ainda líder do PS. Agora, a bola está do vosso lado, Bloco e/ou CDU…
Costa começou, de imediato, o seu trabalho de oposição. Mas falou como se tivesse sido eleito, invocando o programa do PS como se o tivesse, agora, de cumprir, na governação. Foi aliás longo de mais e o momento teve laivos surrealistas. Porque o PS na governação não é o que vai acontecer. Ou é? E se for? É para já ou para daqui a um ano?
Sabendo que a maioria já não é marioria, o que Costa quis dizer é que todas as medidas do programa PàF que chocam contra o programa do PS não passarão no Parlamento, ainda que o Governo PàF possa passar. E o PàF só passará se Bloco e CDU quiserem. Se não se assumirem. Se não fizerem cedências para um acordo global à esquerda. E as medidas que o PS proporá só serão chumbadas se BE e CDU as chumbarem. Estamos entendidos?
Este é o resumo fiel das entrelinhas do discurso de António Costa. Na oposição, será um osso difícil de roer. O mote está dado. Se formar Governo, só com apoio inequívoco e assumido de toda a esquerda ao seu programa. E o mote está dado.
E agora? Quem vai discutir-lhe a estratégia ou disputar-lhe o lugar, dentro do PS? É que o PS não tem mais ninguém. E este discurso é o primeiro da campanha para as legislativas antecipadas de 2016. Ou 2017, no máximo.