No Benfica, Jorge Jesus foi incapaz de contrariar a maldição de Bela Gutman: em duas finais da Liga Europa, frente ao milionário Chelsea e ao mediano Sevilha, abandonou o relvado sempre derrotado, ao contrário do técnico húngaro que, no início da década de 1960, conquistou duas Taças dos Campeões Europeus, e que disse que levaria um século até que alguém conseguisse igualar o seu feito. Agora, no Sporting, Jesus não se vai ver livre da sombra e da comparação com antigos treinadores do Benfica. Em especial, aqueles que, no passado, também trocaram a águia pelo leão. Até porque a história indica que ser campeão no Benfica não é garantia para triunfar no Sporting. Antes pelo contrário…
O único caso (relativamente) bem sucedido foi o de Otto Gloria, que depois de ter ganho três campeonatos com o Benfica (entre 1954 e 1959), tem o seu nome ligado a dois títulos no Sporting. Mas ambos em condições muito especiais (e, por isso mesmo, alguns registos nem sequer incluem o seu nome como campeão): o primeiro, em 1961/62, mas apenas como responsável técnico nos três primeiros jogos; e o segundo, em 1965/66, mas em parceria com Juca.
Nos restantes casos, a história não augura nada de bom para Jesus. Logo no início dos anos 1930, também o inglês Arthur John foi para Sporting imediatamente após ter ganho dois Campeonatos de Portugal com o Benfica. Mas ficou em branco.
Depois, já na década de 1970, o jugoslavo Mirolad Pavic chegou a Alvalade, em 1978, três anos depois de ganhar o campeonato com o Benfica. Terminou em 3.º lugar e com uma derrota na final da Taça de Portugal.
Mas o caso mais exemplar talvez seja o de Jimmy Haggan que, entre 1970 e 1973, conquistou um tricampeonato com o Benfica, incluindo um título histórico sem qualquer derrota. Tal como Jesus, o treinador inglês tinha fama de ser duro e demasiado disciplinador com os jogadores, promovia o futebol de ataque e não permitia qualquer interferência dos dirigentes no balneário da equipa. João Rocha contratou-o para orientar o Sporting na época de 1976/77, confiante no seu perfil ganhador e exigente. E a operação iniciou-se da melhor maneira: uma vitória por 3-0 frente ao Benfica, em Alvalade, logo na primeira jornada do campeonato. O entusiasmo prolongou-se, com um percurso quase imaculado de 11 vitórias nos 12 primeiros jogos, graças, sobretudo, aos golos de Manuel Fernandes e Keita. Mas, na segunda volta, tudo mudou e, no final das contas, o campeão voltou a ser o Benfica, com nove pontos de avanço sobre o Sporting. Sem grande surpresa, mal terminou o campeonato, João Rocha despediu Jimmy Hagan, sem honra nem glória. E ainda hoje quando alguém fala no nome do treinador inglês só o associam aos títulos ganhos de águia ao peito. Uma “maldição” que Jorge Jesus vai ter que contrariar se quiser ser recordado como um “leão”.