Já vai longa a polémica em torno da Jornada Mundial da Juventude e com novos capítulos. Esta semana, a Câmara Municipal de Lisboa, debaixo de fogo pelos valores orçamentados para os palcos e os atrasos nas obras, incompatibilizou-se com o coordenador do grupo de projeto que representa o Estado, José Sá Fernandes.
“O País ganhou uma reputação de competência a organizar grandes eventos, da Expo 98 ao Euro 2004, passando pela Websummit. Um fracasso na organização da JMJ pode causar danos reputacionais graves, e resultar ao contrário do que se pretendia. Provavelmente, os responsáveis vão ter de levar isto para a frente, de qualquer maneira, custe o que custar. E quando acabar, vamos passar muito tempo a escrutinar responsabilidades, ajustes diretos, etc., e as manigâncias do costume. Um espetáculo que não é bonito, mas é muito português”, destaca Filipe Luís, editor-executivo da VISÃO, no Olho Vivo desta semana.
“Começa a parecer uma comissão de festas da paróquia com rivalidades entre bairros”, sublinha Mafalda Anjos. “O problema é que há um vício original em todo este processo. Não há um líder do projeto que controle tudo nem um orçamento comum, há cinco entidades envolvidas, entre poder central, poder local e Igreja. O sistema que está montado é o de uma co-produção, com tarefas divididas entre todos, em que o ‘dono’ do evento é a Igreja Católica, que não tem intervenção no tipo de procedimentos de cada entidade parceira, mas que se deve articular diretamente com cada uma delas”, esclarece. A diretora da VISÃO vai mais longe: “Quando Carlos Moedas vem dizer que não vai falar com o coordenador José Sá Fernandes e fazer tudo diretamente, mostra impreparação e falta de compostura institucional. Parece que não conhece o Memorando de Entendimento que aceitou – e que é já uma segunda versão depois de ter dito em julho que não ia assegurar tarefas que estavam adjudicadas à Câmara –, nem a resolução de Conselho de Ministros que estabelece as funções do Grupo de Projeto. Falar diretamente com a Igreja era o que já devia ter feito e estava claramente definido!”.
“Quando mexemos no fogo também acabamos por nos queimar. Agora é a vez do PSD e Carlos Moedas. Este ambiente de casos leva a que se questionem todos os gastos, derrapagens, salários…”, refere o jornalista Nuno Aguiar. “O caso ganhou relevância política, mas estamos há uma semana a discutir 5 milhões de euros.”
Filipe Luís concorda: “Carlos Moedas teve uma pesada herança, mas mostra sinais de pânico sob pressão. E também suspeita de que este caso da JMJ pode ser suficiente para comprometer a sua carreira política… Já Marcelo tem tido um percurso em ziguezague e também está a fazer tudo para evitar sair chamuscado”.
Outro tema em análise no programa de comentário político e económico da VISÃO foi a Convenção do Chega. Mas talvez fosse melhor chamar-lhe “cerimónia de louvor e não convenção”, diz Mafalda Anjos. “O problema nem tanto a taxa de votação do líder e o facto de este ser um partido de um homem só. O problema é a oposição interna ter sido silenciada e totalmente afastada, como se viu com Nuno Afonso, militante número 2 do Chega, a quem foi retirada confiança política e que diz que ventura persegue e expulsa quem o contraria. Há muita gente a denunciar uma liderança totalitária, regras viciadas e uma asfixia. Se não há democracia interna, como seria este partido no poder?”
“O Chega não tem programa nem lhe convém ter. Agarra-se à espuma dos dias e, no discurso de encerramento da convenção, André Ventura recuou para os velhos clichés populistas. Sem uma ideia. Hoje toma as dores dos professores, porque os professores estão na rua. Se fossem os estivadores, eram os estivadores…”, diz Filipe Luís.
“A ideologia do Chega é o oportunismo”, acrescenta a diretora da VISÃO. “Ficou claro que o foco agora são as eleições na Madeira, onde se vai testar caminhos para as futuras eleições. Ventura que não quer geringonças, quer ir para o Governo. E o PSD, em vez de aprender com o que se passou nas Legislativas passadas e não repetir o erro da indefinição, repete-o. A falta de uma demarcação ideológica clara faz crescer os extremos, porque as pessoas sentem que tanto faz votar num ou noutro”, afirma.
“Podemos sublinhar o papel dos média. Acho que a atenção mediática que o Chega alcançou no congresso não é comparável com qualquer partido de dimensão médio”, aponta Nuno Aguiar. “E ainda agora soubemos que André Ventura foi a terceira figura que mais tempo de antena mereceu na TV em 2022, atrás de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa. As 35 horas que teve comparam com 22h para Catarina Martins e 20h40 para Cotrim Figueiredo e 14h30 para Jerónimo de Sousa.”
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