O PCP recusou-se a marcar presença no Parlamento para a sessão em que Volodimyr Zelensky discursa perante a Assembleia da República, argumentando que o líder ucraniano “personifica um poder xenófobo e belicista, rodeado e sustentado por forças fascistas e neo-nazis”.
“2022 vai ficar para a história como o ano do princípio do fim do PCP: os danos auto-infligidos são irrecuperáveis. Há quem lhe chame coerência, coragem e consistência, mas não há nada de coerente, corajoso ou consistente em insistir-se num erro monumental”, diz Mafalda Anjos, que sublinha que não existe coerência, mas “apenas confusão de valores e falência moral”. E uma enorme contradição: “Não se tem dúvidas em afirmar que a Ucrânia é fascista, mas sobre a Coreia do Norte e a Venezuela não há demarcação”.
“A argumentação do PCP está totalmente colada à de Vladimir Putin. É a narrativa do Kremlin. O PCP escolheu ficar ao lado dos que estão a cometer crimes de guerra”, destaca Filipe Luís. O editor-executivo da VISÃO não tem dúvidas: perante esta atitude do PCP, face à Ucrânia, e do discurso usado sobre o presidente Volodymyr Zelensky, se hoje a “geringonça” ainda existisse, António Costa era obrigado a demitir-se.
“À primeira oportunidade, a máscara do PCP caiu e o verniz do parido institucional e integrado no sistema estalou. O Kremlin tem apoiado o populismo de extrema-direita, na Europa, para enfraquecer a União Europeia, o Ocidente e a Nato. Como o PCP também tem por inimigos a UE, a NATO e o modo de vida das democracias burguesas, o populismo de extrema-direita é um “aliado objetivo” (um conceito leninista). O PCP tornou-se uma espécie de ‘Chega vermelho'”, diz Filipe Luís.
“Com a justificação apresentada para não assistir à intervenção de Zelensky, morre aquela imagem de neutralidade que o PCP tem tentado passar. Nunca disse nada deste género sobre Vladimir Putin”, aponta o jornalista Nuno Aguiar. No entanto, não acredita que o partido seja especialmente penalizado eleitoralmente. “Perderá a tolerância de alguma elite intelectual portuguesa, mas não sei se a generalidade dos portugueses olha para estes temas na altura de votar e o PCP tem um eleitorado relativamente rígido”, acrescenta. “Vejo mais uma morte progressiva, com sucessivas perdas em eleições, como tem acontecido nos últimos anos.
Outro tema em análise foi o Orçamento do Estado para 2022, cuja apresentação mostrou um Governo apanhado num momento de incerteza e que prefere não se comprometer com medidas ambiciosas. “É um orçamento para ganhar tempo. Entrará em vigor e, semanas depois, começará a ser preparado o OE 2023. O Governo tenta ganhar tempo em relação à evolução da guerra, à escalada dos preços e respetiva reação do BCE, assim como perceber a dimensão desta crise. É um momento de grande ruído”, refere Nuno Aguiar. O resultado desta timidez orçamental “é que quase todos os portugueses terão perdas de poder de compra”. “A exceção será quem ganha o salário mínimo.”
Para Mafalda Anjos, Fernando Medina adotou uma abordagem pragmática: “em vez de arrastar mais os duodécimos, pegou no orçamento anterior e fez apenas alterações rápidas”. “Está a esperar para ver os efeitos da guerra e a apostar na apresentação do seu orçamento, para 2023. E estamos numa situação em que outros considerandos além dos puramente técnicos fazem todo o sentido ser incorporados.”
“No timing em que é apresentado, este é um Orçamento intercalar. Mas não parece nada um Orçamento intercalar, porque é praticamente decalcado do Orçamento apresentado (e chumbado) antes de existirem as atuais circunstâncias. Ora, os orçamentos intercalares só aparecem quando as circunstâncias mudam. É possível que ainda antes do OE para 2023, no qual Fernando Medina está focado, ainda surja um retificativo”, acredita Filipe Luís.
Em análise neste Olho Vivo estiveram também as comemorações dos 48 anos do 25 de Abril, a corrida à liderança do PSD, o fim do uso obrigatório de máscaras e a queda abrupta das ações da Netflix em bolsa.
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