O CDS é um partido fundador da democracia portuguesa. Foi fundado no pós-25 de Abril, esteve na assembleia constituinte, insurgiu-se isoladamente contra a Constituição de 76.
Independentemente dos ciclos políticos, das subidas e das descidas, orgulhávamo-nos de ter estado ininterruptamente no Parlamento, a par do PS, do PSD e do PCP. Não pela mera soma do tempo, mas pela circunstância de o CDS ter acompanhado e impulsionado muitas alterações importantes ao curso da história de Portugal. Entre muitos exemplos, o CDS garantiu a recuperação de Portugal de três violentas crises económicas, sociais e políticas (1978, 2002 e 2011), foi a referência promotora da revisão constitucional de 82 – que desmilitarizou o regime e extinguiu o Conselho da Revolução, e promoveu a desnacionalização de vários setores não essenciais na economia portuguesa. Apesar de já antigo, o CDS nunca foi um partido cinzento ou ultrapassado.
Nestas eleições ocorreu o insólito: 47 anos depois, o CDS deixou de ter representação parlamentar. O CDS somado a nível nacional (sem considerar os votos em coligação das ilhas e os resultados por apurar nos círculos internacionais) mereceu a confiança de 87 mil portugueses, 1,61% do eleitorado. Se o caso for analisado círculo a círculo, o melhor resultado obtido, em Viana do Castelo, não chegou a 3,4%.
Para inverter este cenário desolador de pouco servirá um ajuste de contas em praça pública ou a fulanização muito habitual na cena política portuguesa. A única chance de o CDS ter uma chance é incompatível com um clima de tribalização a que os portugueses, para sua infelicidade, se habituaram ao ler e ouvir notícias do partido nos últimos anos.
Ainda assim, o partido está vivo. Está vivo porque temos implantação nacional. Desde logo, autárquica, com autarcas em todos os distritos – expressão da nossa força local. E regional, ao estarmos na governação das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Está vivo porque, para além da força política, temos uma importante força social: temos quadros prestigiados e uma elevada militância.
Esta vitalidade é um ponto de partida preponderante. Contudo, quem estiver cá para isso, não pode negligenciar a reformulação operacional de que o CDS precisa. É imperiosa não só por carências financeiras, mas também por aquilo que o eleitorado legitimamente exige.
Como voltaram a comprovar estas eleições, a popularidade de um partido não se mede pelo seu número de sedes, doses de jantares servidos em campanha ou milhares de quilómetros percorridos. A popularidade de um partido mede-se pela forma bem ou mal sucedida como este se relaciona com a sociedade e lhe dá rumo e aspiração. É, por isso, evidente que precisamos de uma nova imagem, atual e atrativa.
Precisamos de união. O partido está dividido e magoado consigo. Esta é a altura de ver quem está no partido com reforçado espírito de missão, pondo a doutrina e o pensamento acima das guerras pessoais. Estamos obrigados a trazer agenda externa e liderança para que os temas internos deixem de ser o único motivo de inquietação e mobilização vã dos militantes. E o único motivo de interesse da imprensa em nós…
A utilidade de um partido está aí, escancarada e à vista de todos. O CDS pode muito bem voltar a ser útil aos portugueses. A sua carta de princípios permanece atual. Sim, os seus princípios abertos e plurais do humanismo personalista que salvaguardam a dignidade de cada pessoa. Sim, os princípios do conservadorismo que defendem as instituições e as tradições. Sim, os princípios do liberalismo que garantem as liberdades individuais e impulsionam uma economia estagnada há 20 anos.
Ainda assim, é essencial não confundir caminhos. A atualidade dos princípios não deve, nem pode impedir uma reflexão profunda quanto ao percurso que o CDS deve trilhar daqui em diante. Essa ponderação deve convocar todos, líderes passados e dirigentes atuais, militantes e sociedade civil, velhos e novos, os que cá ficaram e também os que saíram.
Acredito que precisamos de uma renovação programática séria, que coloque os princípios em marcha para os desafios dos novos tempos e dos tempos vindouros.
De um programa capaz e enquadrável com as novas tendências e preocupações dos portugueses, que não se limite a proclamar preocupações sem dar respostas estruturais. Respostas claras à eficiência energética, que acautele os custos injustos da transição e que promova a sustentabilidade do território terrestre e marítimo. De uma visão programática inovadora, ciente das exigências das grandes cidades e do Portugal despovoado, sem medos de romper com o passado e disponível para pôr a demografia, a habitação e os transportes no centro das prioridades da agenda política.
Estou cá para isso.
Estou cá para ajudar, alertar consciências, liderar a Juventude Popular e reconfigurar o partido para os recentes desígnios que inevitavelmente terão de ser assumidos. Estou cá para apoiar a convergência, a unidade e a superação essenciais na próxima liderança.
Estou cá para isso.
Sei que não serei o único a dizer “presente” à chamada. O CDS não nasceu ontem e, no que de mim depender, não morrerá amanhã.
Estamos cá para isso.
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