Trump diz uma coisa — e manda dizer outra — consoante a hora (que também muda nos Estados Unidos) e o dia. O Kremlin, por sua vez, afirma algo completamente diferente. Ou evasivo. Ou enganador. A alegada cimeira de Budapeste, entre Putin e Trump, não passa afinal de uma encenação para fingir que há vontade de paz na Ucrânia.
Nem Moscovo nem Washington abordam essa hipótese, muito menos discutem os pormenores. E agora Trump já considera que os ucranianos não têm qualquer hipótese de vencer a guerra. «Pode ser que sim, mas não acredito», disse. Nada disto é saudável para a Europa, que precisa de acelerar a ajuda militar e financeira a Kiev, para que o país possa adquirir as armas de que necessita.
Há, no meio desta confusão de declarações e ideias, uma certeza: sempre que Trump fala diretamente com Putin, tudo volta atrás no seu discurso. Zelensky deslocou-se a Washington para pedir os Tomahawk e outro equipamento militar, mas saiu de lá — após uma conversa tensa — com um rotundo “não” do presidente americano, que entretanto já tinha falado com Putin.
«Sim, estamos a ponderar enviar os mísseis», era a mensagem da Casa Branca e do Pentágono. De repente, tudo ficou sem efeito. Moscovo não quer parar a guerra quando está a apenas 20% de conquistar todo o Donbass — e essa realidade deve ser encarada com transparência entre os aliados. A Europa tem de deixar de acreditar que os EUA, no atual quadro de poder, serão uma alavanca inquestionável para a vitória da Ucrânia, ou que ajudarão Zelensky a negociar a partir de uma posição de força e equilíbrio.
Trump continua a ser um ativo de Moscovo. Está dito e repetido — e é mesmo. Não é apenas aparência, é substância. Esta guerra não pode continuar dependente dos humores do presidente americano.
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