Há 50 anos que Israel não estava em estado de guerra, e essa declaração formal antecipa uma fúria na resposta militar. Mas não há como esconder o desastre sofrido pelo todo-poderoso Estado israelita às mãos de um grupo terrorista, que era suposto vigiar de perto. Não há como explicar os milhares de mísseis que afinal existiam em Gaza – que saturaram a «cúpula de ferro» – e a facilidade com que invadiram território israelita, usando métodos arcaicos, que baralharam toda a sofisticação dos meios militares israelitas.
É óbvio que o Hamas vai pagar caro, e que a Faixa de Gaza será passada a ferro e fogo. Mas nada disso evitará a atrapalhação de Netanyahu e do seu Governo, e das forças armadas, pela forma surpreendente como foram atacados, em terra, no ar e no mar, arruinando o seu mito de indestrutibilidade. Israel deu um trambolhão humilhante no «ranking» dos países mais poderosos e temidos do mundo.
James Clapper, ex-diretor Nacional de Informações dos EUA, comparou o 6 de outubro em Israel ao 11 de Setembro no Estados Unidos, e como isso abalará o equilíbrio na região, transfigurando a imagem de Israel. Não há como dissimular, ocultar, disfarçar. Há 50 anos aconteceu a guerra de Yom Kippur, um ataque maciço de vários países árabes vizinhos, mas desta vez foi apenas um grupo terrorista armado com asas delta, drones de feira, motas e tratores, para além de milhares de mísseis fornecidos pelo Irão (como foi possível?) que deu cabo da reputação do Estado hebraico. E ainda não acabou.
Há imagens e vídeos tenebrosos, mas o que maior dano causa ao poderio militar israelita é o de um drone que atira um «cocktail Molotov» contra a torre de um «Merkava», considerado o melhor tanque do mundo, com a sua tripulação assustada a render-se, sem mais, a um grupo agitado de terroristas. É um embaraço. Só comparável, aliás, ao desastre do poderio militar russo na invasão da Ucrânia. Tudo más notícias para um primeiro-ministro que tem uma longa história de ações musculadas e fulminantes contra as ameaças locais, regionais e mundiais. Estava distraído?
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