O Governo conseguiu o que queria. Temos de lhe reconhecer grande habilidade, paciência e uma excelente capacidade de criar uma confusão da qual já ninguém percebe o seu princípio e o fim. O SIS é o princípio, mas tudo o que se relaciona com a sua atuação passou a ser incompreensível. Por muito que se tente agarrar numa ponta, o fio não vai dar a lugar nenhum.
E continua a não se saber, de todo, quem o acionou, quem o levou a agir ilegalmente, e o que fez naquelas longas horas. O secretário de Estado Adjunto do PM, Mendonça Mendes, foi muito claro da Comissão: não contactou, não ordenou e não sugeriu a quem quer que fosse. Confirma o que o primeiro-ministro já tinha dito, mas deixa Galamba nas brasas.
Assim, à primeira vista, Galamba falou com Mendonça Mendes, com o MAI, com a ministra da Justiça, e depois com o PM. Será que telefonou a mais alguém? E o certo, até agora, é que ninguém lhe sugeriu o contacto com o SIS, o SIRP, ou de qualquer outra entidade desta natureza. Por este caminho não vamos a lado nenhum. E este assunto já chateia. Já enfastia. Já aborrece. Nisto o Governo andou bem.
Resta, por isso, voltar à fonte, que não é o ministro Galamba, mas o próprio SIRP e o SIS. Uma coisa sabemos: a chefe de gabinete contactou o SIRP – quem, especificamente? – e esse personagem acionou o SIS, ao ponto de a senhora receber um telefonema pouco tempo depois. Daí à rocambolesca ação de ir buscar o computador, altas horas, numa rua escura, foi um tiro. Será que a culpa disto tudo é só da chefe de gabinete?
Curiosa toda esta história de confusões, precipitações e ilegalidades. É certo que a chefe de gabinete até poderia ter telefonado à CIA, ou à DIA, mas daí a eles tomarem isso como uma ordem é o absurdo elevado ao quadrado. Se queremos saber o que aconteceu, de facto, naquela noite, bastará perguntar à secretária-geral do SIRP e ao diretor-geral do SIS. Não será mais fácil, direto e eficaz? Convoquem-nos, por favor, para acabar com esta chatice.
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