Cavaco, no seu estilo, deu uma carga de pancada no Governo, no primeiro-ministro, e no Partido Socialista. Qual é o problema? Nunca deixou de ser social-democrata, tal como Mário Soares sempre foi socialista, e a condição de ex-presidente não o inibe de comentar a situação política, que é alarmante. Por isso quis aparecer, dar a cara, e desancar António Costa.
Há indignação entre os socialistas, mas percebe-se mal a razão. Quem gerou a balbúrdia política em que o país está metido? Foi Cavaco? Foi Luís Montenegro? Foi o atual Presidente? O que o Governo e a maioria não pode fazer é tentar transformar a disfuncionalidade e a confusão governamental numa normalidade aceitável. Isso é insustentável.
Nunca poderá ser normal, nem aceitável, que um ministro ameace com pancadaria um ex-adjunto, que o seu gabinete se atire em fúria para uma mochila, que o SIRP e o SIS sejam convocados para um papel policial, que um primeiro-ministro segure um ministro desautorizado, e que o Presidente se sinta desafiado no seu papel de estabilizador nacional.
E que disse Cavaco? Que estamos, como país, nos últimos degraus da Europa, sem estratégia nem destino, que é inédita e aflitiva a condução governamental, apesar da maioria absoluta, e que seria bom que o primeiro-ministro tivesse consciência do desagrado nacional. O ex-presidente também tentou atenuar as angústias de Marcelo: em eleições não há vazios, e por isso o PSD deve preparar-se, sozinho, para acabar com o domínio socialista. Quanto mais tempo vai durar este absolutismo?
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