Alexandra Reis, afinal, é que deveria ser a CEO da TAP, e desde 2020. Isto não é a brincar. A sua prestação na audição na Comissão de Inquérito mostrou, com clareza, que estava inegavelmente habilitada para dirigir a empresa – que, na verdade, até o fez durante um extenso período, apenas com um outro colega – e o plano de reestruturação, o original e o revisto, foi construído com as suas capacidades de gestão, em parte importante.
Foi a primeira vez que Alexandra Reis apareceu a falar publicamente, e no sítio certo, sobre as confusões da TAP, o modo como foi empurrada pela CEO, os valores que recebeu, e que quer devolver, e a forma como foi tratada por uma companhia da qual era trabalhadora, antes de ser administradora.
Serena e explicativa, sem nunca fugir a nenhuma questão, Alexandra Reis limpou e desfez a imagem negativa e tenebrosa que ainda poderia existir dela, e que foi criada na sequência da sua posse como secretária de Estado do Tesouro. Na audição mostrou grande capacidade profissional, um extraordinário conhecimento da operação da TAP, dando pormenores técnicos exaustivos, que só reforça a ideia de que nunca deveria ter saído da companhia.
Percebe-se, assim, e finalmente, o ponto fundamental que levou a CEO a afastar Alexandra Reis da TAP: era a rival a abater. Fazia-lhe frente, questionava decisões, e mostrava um conhecimento profundo da empresa e da instabilidade gerada nos trabalhadores, desde o início do Covid. A tutela política, objetivamente, nomeou a CEO errada.
É horrível, de todos os pontos de vista, perceber agora, meses depois de um massacre mediático e político a que foi sujeita, e em que todos participámos, que Alexandra Reis era na verdade uma profissional capacitada, habilitada, e preparada para gerir a TAP. Estava no lugar certo, e seria a escolha perfeita para CEO. É pena. Muita. Porque, desde logo, nunca assistiríamos às revelações insólitas e deprimentes que temos visto na CPI.
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