Um é comunista, grande líder, e o outro um fascista nacionalista. O que os une? A história, apenas. A mesma que levou Hitler a fazer um pacto de não agressão com Estaline. Odiavam-se, verdadeiramente, mas o objetivo estratégico coincidia: deixar que os nazis se ocupassem do Ocidente, durante muito tempo, para evitar que olhassem para o Leste.
Hoje, contudo, os poderes estão invertidos. A Rússia atual é uma irmã menor da China, em todos os aspetos: políticos, económicos e militares. E Pequim é a única quase-superpotência que ainda alimenta o ego de Putin, envaidecido com a súbita importância que julga ter. Aquele caminhar dos dois, num salão imperial, de dezenas de metros, até se encontrarem, relembra a imponente chancelaria que Albert Speer construiu para Hitler, obrigando os convidados a caminhar metros a fio, humilhados, até ao chefe nazi.
Mas nada disso terá impressionado Xi Jinping, um matreiro refinado – tem um sorriso perigoso – que só se compromete com o que possa aumentar o poderio económico e militar da China, à custa das matérias primas e energias russas. O resto são fantasias. Xi nunca daria um apoio militar direto, a todos os níveis, que igualasse o que os aliados estão a fazer na Ucrânia.
Pequim quer ocupar o lugar de Moscovo no novo mundo geoestratégico, e a guerra na Ucrânia até tem ajudado a destrunfar a Rússia, e a mostrar a sua fraqueza operacional e convencional. Putin é um fascista que chora o desaparecimento da URSS, não pelo que era ideologicamente, mas apenas pelo comando ditatorial que exercia em dezenas de países de Leste, e de outros continentes, com milhões de habitantes, que metiam medo ao Ocidente. Nada os une que não seja a lábia, a artimanha, e a esperteza saloia.
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