Com o discurso sobre o Estado da União, Ursula van der Leyen deu o tiro de partida para a corrida aos cargos europeus, sejam eles de “meros” deputados ou outros mais apetecíveis.
Com cidadãos completamente desmotivados e descrentes nas instituições, o futuro da União não se afigura risonho.
As estas desconfianças do eleitorado acrescem as diferentes crises que assolam o mundo e que colocam desafios muitíssimo prementes.
No topo a guerra na Ucrânia com as suas várias facetas.
Independentemente de todas as romarias dos grandes líderes a Kiev, não se vislumbra qualquer resolução diplomática do conflito. Pelo contrário, nos últimos meses temos assistido a uma escalada bélica de parte a parte. Aparentemente as visitas têm servido apenas para garantir o escoamento de armamento, através de ajudas externas.
Naturalmente que há que dotar o agredido de meios para se defender e tal passa pelo fornecimento de armas. No entanto, paralelamente, seriam expectáveis ações diplomáticas com vista a pôr fim ao conflito.
Mesmo partindo do pressuposto natural de que toda a diplomacia efetiva deve ser mantida em sigilo por forma a dar frutos, até ao momento nada se verificou. Muito pelo contrário, o apoio de Kim Jong Un manifestado a Putin antecipa uma escalada em toda a linha do conflito, temendo-se que o mesmo alastre aos países vizinhos da Ucrânia o que pressuporia uma dor de cabeça acrescida para a UE.
Irónica e tristemente, o espaço que foi pensado como de liberdade e de livre circulação é cada dia mais uma fortaleza de altos muros e de intolerância
À próxima Comissão, que tomará posse no segundo semestre de 2024, colocar-se-á novamente a questão do alargamento da Europa e da sua defesa e segurança.
Se para esta última o momento não será o da construção dum sistema próprio e autónomo, já que em tempo de guerra não se limpam armas, já o problema e a decisão do alargamento das fronteiras urge ser solucionado.
A Turquia aguarda há décadas uma decisão que tarda. Entretanto, fazendo-se valer da sua posição geopolítica, tem vindo a encurralar a União a cada dia que passa, seja com a ameaça de abertura de fronteiras com a vizinha Grécia, deixando sair os refugiados que a Europa pediu para conter, quer com o papel, cada vez mais importante, na questão do escoamento e distribuição dos cereais face ao conflito russo. Estas duas posições de força mais cedo ou mais tarde relegarão para segundo plano as questões relacionadas com o regime turco, a falta de liberdade e de democracia, argumentos usados até ao momento para adiar a entrada do País na União.
Por seu lado a Ucrânia insiste em ser aceite no clube europeu. Para já, o argumento tem sido o facto do país se encontrar em guerra, não tendo definidas e apaziguadas as suas fronteiras. Mas… e no day after que critérios e requisitos serão exigidos? Manter-se-ão os pressupostos de regime democrático e de liberdades individuais? Esperemos que sim, pois se recuarmos a um ano antes da invasão a situação no país, entretanto invadido, não era propriamente um exemplo de ambos.
Por último, mas nem por isso menos importante, a questão das migrações e do estatuto de refugiado.
Como se não bastassem as loucuras dos homens, a natureza parece ter-se revoltado e vai espalhando a destruição, sobretudo nos países mais frágeis.
Marrocos desmoronou-se pela fúria dum enorme terramoto que destronou o tristemente célebre colapso de Agadir em 1960.
A Líbia enfrenta inundações que provocaram já cerca de 5.000 mortos.
Todo o continente africano vem vindo a sofrer os resultados nefastos das alterações climáticas com a consequente degradação da economia, baseada quase cem por cento no setor primário.
Estes fatores têm como consequência um êxodo humano que aumenta na medida que se agravam estas condições.
Sendo a Europa o “éden” mais próximo, é de prever uma vaga nunca antes vista de migrantes e refugiados do clima, em busca de porto seguro.
Ora a UE, por mais declarações e projetos legislativos que tenha feito, ainda não conseguiu uma efetiva política de migração, continuando a deixar os países com fronteiras externas a braços com situações que não podem resolver.
Irónica e tristemente, o espaço que foi pensado como de liberdade e de livre circulação é cada dia mais uma fortaleza de altos muros e de intolerância.
Face a todos estes desafios, e sem que se vislumbrem estadistas europeus com respostas claras e sem temores eleitoralistas, os extremismos vão florescendo, minando o sonho europeu.
Falo de extremismos, pois não creio que exista grande diferença entre os de direito e os de esquerda. É, aliás, da geometria que os extremos se tocam e se fundem.
E é da História que, quando tal acontece, a democracia e a liberdade são as primeiras vitimas do sistema.
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