Um ano já lá vai e não se vislumbra fim à vista.
Nem sanções, nem reforço de armamento, nem ações diplomáticas, foram eficazes para pôr um ponto final neste conflito.
Pelo contrário, as posições tendem a extremar-se num crescendo de ameaça mútua que coloca o mundo inteiro em suspense.
O que começou por ser uma invasão dum Estado soberano pelo seu vizinho rapidamente se transformou numa guerra mundial. É verdade que não existem bombas a cair nas grandes cidades fora do território ucraniano, mas isso não é o suficiente para circunscrever a guerra aos dois beligerantes.
As repercussões e o estado de alerta que provocam alastram como mancha de sangue por toda a Europa.
Milhares de deslocados juntaram-se a outros tantos de outros conflitos que já pressionavam as fronteiras europeias.
A resposta dada aos refugiados deste conflito veio demonstrar que, de facto, a chamada “crise dos refugiados” era, em grande parte, uma falácia para camuflar a inexistência de vontade e de resposta concertada da União. Num ano, a Europa respondeu e lidou com um fluxo de 14 milhões de refugiados ucranianos, sem que tivesse necessidade de recorrer a campos ou instalações temporárias ad-eternum, de acolhimento.
A Europa conseguiu em tempo recorde, acolher um número de pessoas, semelhante ao que mantém em stand by nos campos da Turquia, cujo governo fez com a União um contrato de outsourcing para funcionar como Estado tampão
A floresta limítrofe entre a Polónia e a Bielorrússia, alberga essencialmente refugiados de outros conflitos que se encontravam com esse estatuto no país do sr. Lukashenko antes deste ter retirado essa proteção a todos os que tinha acolhido.
Se enveredássemos pelas teorias da conspiração, poderíamos dizer que toda a situação obedece a um plano e que a mobilização forçada de deslocados de guerras do Médio Oriente atraídos pela Bielorrússia nos anos anteriores à ocupação da Ucrânia estava na mira do atacante e dos seus aliados, desde a primeira hora, assegurando a “carne para canhão”.
Mas, se excetuarmos esta situação naquela fronteira, a Europa conseguiu em tempo recorde, acolher um número de pessoas, semelhante ao que mantém em stand by nos campos da Turquia, cujo governo fez com a União um contrato de outsourcing para funcionar como Estado tampão.
Se dúvidas houvesse sobre a política migratória a duas velocidades e a vários rostos, esta atitude europeia dissipava-as duma só vez.
Não se trata aqui duma questão utilitária, baseada numa maior qualificação de refugiados ucranianos. Esse, para além de apenas reforçar de novo a desigualdade de tratamento, é um argumento falacioso, porquanto a grande maioria deste fluxo é composto por famílias encabeçadas por mulheres que têm a seu cargo os familiares mais indefesos: crianças, idosos e doentes. Não estão em causa as qualificações detidas mas o papel destas mulheres na integração e apoio dos que têm a cargo.
Trata-se, por muitas voltas que se dê, duma clara discriminação.
A Europa esteve bem no caso deste conflito. Já o mesmo não sucedeu no caso da Síria, ou do Iraque.
Tal como continua a fazer ouvidos moucos e a olhar para o lado para o verdadeiro genocídio naqueles países e ao feminicídio no Afeganistão e no Irão.
Será uma questão de proximidade ou de cor de pele? Se calhar de ambas conjugadas com o factor religioso.
Mas… e se a guerra alastrar? Se os movimentos de fuga passarem a ter origem noutras áreas, sobretudo russas, cuja etnia as diferencia dos Ocidentais?
Porque a guerra não tem um só lado que sofre, independentemente de quem é o agressor e quem é o agredido. Os cidadãos comuns pouco ou nada sabem ou querem saber de xadrez político/económico. Apenas anseiam pela paz e pelo futuro.
Paz e futuro que parecem a cada dia que passa, mais longínquos e mais dolorosos.
As economias com forte componente militar já ganharam o suficiente.
A partir deste primeiro aniversário é urgente o compromisso e as diligências diplomáticas sérias, que não se compadeçam com exceções a sanções e a acordos económicos colaterais.
Para que não tenhamos que assinalar novo aniversário.
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