Tinha acabado de comentar a “operação especial” que a Rússia iniciara contra a Ucrânia. Já à saída, cada um em direção ao seu carro, o jornalista perguntou-me se achava mesmo que iríamos a assistir a uma guerra. Eu disse-lhe que sim e que seria longa e dura. Li no olhar que me achara pretensiosa e um tudo nada tonta.
Não tardou a que outros, menos educados, nos (porque éramos mais a pensar assim) apelidassem de astrólogos da desgraça. No meu caso, não tinha nem tenho nenhuma bola de cristal e quem me conhece sabe que as cartas para mim só mesmo as que vêm dentro de envelopes.
Não se tratava de fazer futurologia, mas sim de saber ler a História e estar atenta aos sinais. Tão somente.
O mundo saía duma pandemia. Pela primeira vez, a grande maioria das pessoas auto condicionava-se, nos seus movimentos, nos seus contactos, na sua participação cívica e social.
O momento era propício a duas coisas e nenhuma delas exclusiva. Ou ao aparecimento dum grande ditador, salvador da Humanidade e sufragado pela população temerosa, ou uma guerra generalizada.
A nunca desmentida influência da Rússia em alguns movimentos nacionalistas e de extrema-direita, que sopraram (sopram!) desde os Estados Unidos da América à Europa e que visava enfraquecer estes dois blocos, não tivera o resultado esperado pelo Kremlin. Trump já não habitava a Casa Branca e em França, embora periclitante, Macron mantinha-se no Eliseu
A nunca desmentida influência da Rússia em alguns movimentos nacionalistas e de extrema-direita, que sopraram (sopram!) desde os Estados Unidos da América à Europa e que visava enfraquecer estes dois blocos, não tivera o resultado esperado pelo Kremlin. Trump já não habitava a Casa Branca e em França, embora periclitante, Macron mantinha-se no Eliseu. Todos os restantes partidos apoiados pela Rússia com o único propósito de conseguir uma hegemonia desta, pela via da implosão alheia, não estavam ainda “maduros”. Os calendários de alternância tão pouco ajudavam e, num mundo onde o agora é num nano segundo já passado, Putin não tinha tempo a perder se queria finalmente fazer renascer a Rússia imperial.
O momento era, aliás, ideal! Com a população anestesiada e amedrontada com uma possível Peste Negra, versão século XXI, alimentada por um quarto poder que já fugiu há muito das redações dos media e ainda duas grandes economias à beira da recessão (os EUA e a europeia, com a Alemanha à cabeça) a altura era perfeita!
Ao contrário do que muitos afirmaram então, nunca pensei que a guerra fosse rápida nem nunca comprei a narrativa do David contra Golias.
A não ser a população e, em última análise o invadido, e mesmo este tem diversos e diferentes setores, ninguém queria (nem quer) um conflito rápido!
A guerra é o maior negócio de todos os tempos e desde sempre!
Alavanca economias como nenhum outro e as repercussões económicas perduram muito para além do silêncio das armas. É só pensar no esforço monetário e nas fortunas que irão ser feitas com base na reconstrução dum país completamente destruído.
Cidades sem água, sem luz, sem aquecimento, esperam o Natal mais negro desde a grande fome!
Aquela que é por excelência a festa da família vai chegar à Ucrânia e à Rússia desfalcada ou dividida, com membros precocemente mortos e outros em parte incerta.
Poucos serão os meninos em redor da árvore e no aconchego dum lar familiar.
Começámos por contar os dias da guerra. Estamos quase a “celebrar” o primeiro aniversário e, porque é importante ainda manter determinados equilíbrios económicos e políticos, fala-se já duma nova e forte ofensiva russa. Vai-se até mais longe, antevendo a participação de outros países no conflito.
Pacotes de sanções, discursos inflamados, condenações, nada disso evitará que possamos vir a contar a guerra por anos.
A única solução será apoiar os movimentos que possam fazer implodir o agressor. Tudo o resto são enfeites de árvore de Natal que, lá longe onde as bombas caem e o frio e a fome matam, são apenas árvores despidas e fantasmagóricas.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.