Não é raro a personagem principal de um filme mudar de rumo a meio da história. Quer seja na vida pessoal ou na vida profissional, são geralmente essas mudanças que culminam num ponto de viragem da narrativa ou numa (auto)descoberta significativa. “A vida é como um filme” é, realmente, um cliché, mas o meu percurso – como o de tantas outras pessoas –, acaba por ter muitas cenas e personagens inesperadas, e acredito que é isso que nos enriquece enquanto profissionais.
Foi no mundo da televisão, precisamente, que iniciei o meu caminho profissional. Durante vários anos, fiz parte de equipas de produção de cinema e televisão e ajudei a desenvolver narrativas marcantes. Foi uma experiência inesquecível, mas, a certa altura, percebi que precisava de um novo rumo. Decidi mudar, mas sabia que queria continuar a trabalhar numa empresa e num ambiente que me estimulassem diariamente a aprender e a continuar a ser curiosa.
Agora, numa área completamente diferente – de desenvolvimento de negócios –, a minha função vai muito além de “comercializar”: é compreender profundamente cada cliente, e as suas expectativas e necessidades de crescimento. Foi a partir desse ponto de viragem que comecei a ouvir frequentemente uma questão, sempre em tom curioso: “como e porque é que começaste a trabalhar numa área tão diferente?” Aparentemente, têm muito pouco a ver, mas a capacidade de organização, criatividade, gestão de projetos, visão estratégica e espontaneidade são algumas das competências que desenvolvi e trago comigo do meu emprego anterior e que continuarei a pôr em prática ao longo da vida.
Numa época em que as empresas cada vez mais valorizam percursos pautados pela flexibilidade, proatividade e curiosidade, parece-me que há que repensar que perfis devem ser recrutados e integrados nas equipas. Claro que a experiência na área é insubstituível, mas não devíamos valorizar também a interseção de diferentes ideias, experiências e modos de pensar? De que modo é que uma ex-produtora pode enriquecer o mundo dos negócios ou de que forma é que um antigo designer pode trazer insights e acrescentar valor a uma área de recursos humanos? A meu ver, é numa equipa multidisciplinar com diversos backgrounds e formações que se formam as melhores ideias e também surgem os melhores resultados.
Mudar de carreira não é fácil. Pelo contrário, implica sair da zona de conforto, arriscar e, muitas vezes, começar quase do zero. Mas é também uma oportunidade única de trazer para um novo contexto tudo aquilo que já aprendemos. No meu caso, a produção ensinou-me a gerir complexidade e a valorizar o poder da criatividade e organização. Hoje, aplico essas aprendizagens em negócios e sei que vou utilizar estas ferramentas em desafios futuros. A carreira, afinal, é um filme em constante produção, e talvez seja justamente essa capacidade de reescrever o guião que nos faz crescer.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.