Em outubro, mês em que é assinalado o Dia Mundial da Saúde Mental, multiplicam-se as iniciativas de promoção de bem-estar e equilíbrio mental e emocional. Outubro é também o mês em que foram divulgados os dados do STADA Health Report 2025 que traçam um retrato preocupante sobre a exaustão emocional.
O estudo, realizado em 22 países, revela que na Europa, 66% dos indivíduos relatam já ter experimentado sintomas de burnout pelo menos uma vez e muitos ainda encaram a saúde mental como um tabu ou um luxo inacessível.
Portugal segue a tendência: mais de metade dos portugueses (61%) refere que se sente esgotado ou em risco de burnout, e 36 % admite ter problemas de saúde mental. Porém, apenas 3% dos inquiridos recorrem a terapia. Esta discrepância traz para o debate não apenas a dimensão do problema como também as barreiras ao acesso e procura de apoio, deixando transparecer um evidente e perigoso silêncio coletivo. Vivem-se tempos em que a normalização do cansaço e do burnout é vista como sinónimo de produtividade e sucesso. Porém, um aluno esgotado não aprende, um trabalhador em burnout não produz.
Em contexto escolar deparamo-nos com quadros de ansiedade e esgotamento transversais a alunos, professores e pessoal não docente sem que existam mecanismos consistentes de apoio. Em contexto empresarial falar de saúde mental ainda representa estigma, muitas vezes encarado como sinal de fraqueza. Importa aqui recordar que o bem-estar psicológico não é apenas uma preocupação individual, mas uma responsabilidade global de toda a sociedade, das famílias, das comunidades, das escolas e das empresas. É urgente quebrar este ciclo de normalização, integrando que produtividade e bem-estar são aliados, e não inimigos, em todos os contextos.
É, por isso, urgente uma reflexão profunda sobre o bem-estar psicológico e emocional normalizando o cuidado com a saúde mental e emocional. Estratégias de prevenção, programas de promoção de saúde emocional, check-ins psicológicos, programas de bem-estar e espaços seguros de diálogo e partilha devem deixar de ser a exceção para se tornarem regra. É fundamental que escolas e empresas se reconheçam como lugares de cuidado, não apenas como espaços de formação ou produção. Não basta decorar cartazes ou promover uma palestra anual, é fundamental um compromisso contínuo, proporcionando uma cultura de escuta ativa, facilitando recursos de apoio psicológico, reduzindo o estigma de quem expressa sofrimento ou mal-estar, alinhando políticas públicas e privadas com essas práticas.
Investir em saúde mental e emocional é investir em capital humano, em resiliência social, em criatividade e em confiança, devendo ser encarado como uma prioridade central de qualquer sociedade.
Neste outubro, mais do que assinalar a data, precisamos de a viver de forma ativa, falar, escutar, apoiar e agir. Que outubro seja um ponto de partida para a ação e não um ponto final. Porque o silêncio, esse, tem custos demasiado altos para todos nós.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.