A campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 2025 já está em curso, num processo que se destaca pela pluralidade sem precedentes, marcado não só pela renovação institucional e pela reposição de centenas de freguesias, mas também pela emergência de um novo ecossistema comunicacional capaz de transformar profundamente a forma como a política é feita e vivida em Portugal. Em 2025, a saída de sensivelmente 89 presidentes por limite de mandatos em cidades emblemáticas, como Faro, Évora, Sintra, Cascais, Porto ou Braga, combinada com a reposição de 302 freguesias, devolverá ao território mais proximidade democrática e alimentará uma competição eleitoral sem precedentes, tornando a qualidade da comunicação política num vetor estratégico imprescindível.
A presente eleição é singular devido ao elevado número de listas e grupos de cidadãos que se apresentam, ultrapassando as barreiras tradicionais e convidando a uma reflexão mais profunda. Neste contexto, os órgãos de comunicação social regionais, designadamente jornais e estações de rádio locais, assumem um papel de destaque ao atuarem como guardiões do pluralismo, da informação rigorosa e do escrutínio contínuo. Como tal, os intervenientes em questão são responsáveis por clarificar as competências autárquicas recentes, detalhar os procedimentos eleitorais e fomentar o debate comunitário. Ademais, contribuem para a resolução de dúvidas e a mitigação da tendência persistente de abstenção, que, lamentavelmente, ainda afeta muitas autarquias.
A inovação tecnológica e mediática impõe, igualmente, novos formatos de comunicação política. A recém-criada plataforma Conta Lá emerge como uma inovação significativa na cobertura eleitoral, assegurando a realização de debates em todos os 278 municípios do continente, promovendo o acesso e a visibilidade das candidaturas. Esta operação sem paralelo proporciona ao cidadão uma transparência e um envolvimento que reforçam a democracia local, aproximando eleitos e eleitores e descentralizando o debate político.
Concomitantemente, no contexto digital, as redes sociais emergem como um espaço crucial para a divulgação e debate das campanhas autárquicas. O sucesso de figuras como Isaltino Morais, que obtém um elevado grau de notoriedade na aplicação TikTok e na rede social Instagram através de uma comunicação descontraída, informal e humorística, demonstra que a política local incorpora atualmente uma “realidade aumentada”, na qual o contacto bilateral e a construção de marca pessoal — veja o candidato com “marca registada” em Oeiras — transformam a relação entre o político e o eleitor. No entanto, esta celeridade e viralidade impõem igualmente uma necessidade de prudência, uma vez que a propensão de conteúdos breves e emocionalmente intensos pode comprometer a profundidade e a rigidez, facilitando a emergência de simplificações e discursos menos ponderados.
Neste contexto, o infotainment assume uma posição de destaque: a par da romaria ao programa de Júlia Pinheiro e dos programas da manhã, o regresso do “Bom Partido”, apresentado por Guilherme Geirinhas, evidencia a reinvenção da política para interagir com os públicos mais jovens, recorrendo ao humor e à irreverência para gerar interesse e empatia. O programa subverte o paradigma convencional da campanha, enfatizando a autenticidade e o diálogo descontraído, e consolida um novo espaço de envolvimento cívico, no qual o entretenimento serve a informação e a participação.
Além disso, partidos como o Chega, a Iniciativa Liberal e o Livre, que nas últimas eleições legislativas ampliaram significativamente o seu eleitorado, apostam nestas Eleições Autárquicas para consolidar e ampliar a sua influência ao nível local, mobilizando estratégias digitais e comunicacionais marcantes que desafiam o statu quo e prometem alterar a geografia política tradicional.
O grande desafio destas eleições é assegurar que a comunicação política funcione como pavimento seguro para a participação informada, o debate rigoroso e a rejeição das fake news. Para tal, é crucial que todos os intervenientes — candidatos, comunicação social e eleitores — valorizem o rigor, a transparência e o pensamento crítico. A democracia local apenas se consolida e fortalece se a comunicação for um espaço coletivo de construção de cidadania consciente.
Deste modo, as eleições autárquicas de 2025 poderão representar uma mudança significativa na democracia portuguesa. Se a comunicação for bem-sucedida, será possível reverter o desinteresse e a abstenção, renovar laços sociais e políticos e afirmar um modelo de governação baseado na proximidade, na autenticidade e no compromisso efetivo com os cidadãos. E, no epicentro desta transformação, emerge uma comunicação contemporânea, integrada nos órgãos de comunicação social regionais, nas redes sociais, no infotainment e nas novas formas de envolvimento democrático, que poderá assumir o papel de principal protagonista desta eleição histórica.
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