A ansiedade nasce connosco, assume-se como estimulante ou debilitante, como impulso ou travão. Este binómio, muitas das vezes, torna complexa a nossa autoavaliação exata: usamos a ansiedade a nosso favor, ou somos consumidos por ela? Crescemos a ouvir dizer que os dias são agitados, há deadlines, prazos, “a vida é uma correria”, mas quem dita esta corrida? Os superiores hierárquicos? Os superiores dos superiores? Um Deus humanizado? Será que quando somos nós a ter o poder de desacelerar a nossa vida, até nos momentos de lazer, será que realmente o fazemos? Andamos a correr para quê? Para onde? Com que propósito? Será que estou onde quero, com quem quero, com quem ambiciono um dia rodear-me?
Então trago aqui hoje uma proposta:
– PARAR. Parar para pensar se realmente estou satisfeito com a maneira como me sinto, com o que faço, e se valorizo efetivamente o que já conquistei até agora. Não necessitamos esperar por uma experiência dramática, pelo vulgo “abre-olhos”, o momento de viver é o agora.
Na iminência de algo traumático ou acidental que se coloca no nosso caminho, pensamos: “eu estava bem como estava”, “eu já era feliz e não sabia”, então por que não aproveitar já este momento para a valorização do que já temos, e que é certo? O dar tudo como adquirido, o não aceitar planos B, essa falsa segurança, leva-nos a cair num abismo sem rede, quando nos deparamos com o inesperado. A ansiedade é exatamente o medo de perder o controlo, de lidar com o incerto e desconhecido, com o suposto inseguro que nos arranca da zona de conforto. Contudo, temos uma vantagem a nosso favor, coabitamos com a ansiedade há bastante tempo, desde os nossos antepassados. E quanto mais conhecimento possuímos sobre ela, melhor aprendemos a lidar, daí que um caminho vital a percorrer, seja o do autoconhecimento (o mergulho dentro de nós mesmos, despidos de filtros, a parte oculta do nosso iceberg).
Antes de ser “Psicóloga” já era “Pessoa”, e antes de ouvir os relatos e a sintomatologia típica de um quadro ansioso nos outros, já tinha convivido de muito perto com ela, desde criança, várias visões, mas sentimentos similares. Uma vez, um estimado professor disse-me: “Bárbara, a sua mente conta-lhe histórias diariamente, e 99% delas não se realizam. Ou seja, efetivamente, toda a catastrofização que eu pensava de forma antecipada, não era uma predição mas sim uma mera imaginação, uma crença irracional. Somos os primeiros a autossabotar-nos, se fossemos mais gentis connosco próprios, não andávamos tão ansiosos.
Passamos mais de metade do nosso tempo a lamentar-nos com o nosso passado e a sofrer antecipadamente com o que acontecerá no futuro, mas a vida é o que acontece no meio, o PRESENTE, e é crucial que não nos esqueçamos de a viver. O presente foi o futuro de um dia e virá a tornar-se passado, portanto, para sermos mais conscientes da nossa própria vida devemos começar a dotar-nos de estratégias de foco no momento presente. Esta premissa leva-nos diretamente para o conceito de Mindfulness. Conceito este, que ganhou forma através das práticas estruturadas por Jon Kabat-Zinn, em 1979. Este médico, discípulo de Thich Nhat Hanh, monge budista do Vietname, foi a primeira pessoa a trazer para o Ocidente os benefícios do Mindfulness, de forma científica, terapêutica, e liberta de crenças religiosas. Daí ser uma prática tão abraçada atualmente por tantos. Conheci o Mindfulness há cerca de 10 anos, na primeira pessoa, informei-me, li, estudei, e comecei aos poucos a introduzi-lo na minha vida, sem esforço, tornou-se numa maneira de estar. Para isso é preciso descomplicar, utilizando recursos que já estão em nós, como a consciência da nossa própria respiração, assim como dos nossos batimentos cardíacos. No nosso dia a dia nem reparamos que eles existem, a menos que se descontrolem. Basta inspirar pelo nariz, suster o ar e expirar pela boca de forma profunda, lenta e pausada, trazendo a consciência para aquele ato. Podemos até associar uma contagem, a técnica 4-7-8, demorando 4 segundos na inspiração, 7 segundos a manter o ar, e 8 segundos a expirar, até o ar sair completamente dos nossos pulmões. Com os olhos fechados, podemos enriquecer este ato com o pensamento de que, quando inspiro, trago luz e força para dentro de mim e, quando expiro, liberto as minhas angústias e preocupações.
Seja na primeira ida à escola de uma criança, na mudança de um professor, na realização de um teste/exame, na expetativa de uma consulta ou cirurgia, de uma entrevista de emprego, de um novo trabalho, de um novo colega ou casa, das saudades de familiares, ou de lutos inesperados, não obstante as fases desenvolvimentais, desde a criança ao idoso, todos lidam com a ansiedade e angústia em qualquer altura. Colocar as emoções mais desagradáveis em forma de palavras, pode ajudar, assim como um olhar empático ou um abraço. E estar ciente de que tudo são fases, o bom e o menos bom, como dizia Alberto Caeiro em o Guardador de Rebanhos:
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva…
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica…
Assim é e assim seja…
Este poema leva-nos para atitudes presentes no Mindfulness, a de deixar fluir/ir, e a aceitação, quando constatamos que os pensamentos, tal como as emoções, vão e vêm. É a sua forma natural, não há alturas sempre más, nem alturas sempre boas, mas surfamos essas ondas aceitando-as, não como quem se resigne ou concorde com o menos bom, mas simplesmente não nos desgastando em tensão e raiva. Estas são o nevoeiro cerrado que nos impede de ver o sol a chegar.
Até à próxima, e não se esqueça de estar presente no momento presente.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.