A velocidade a que o Governo anuncia pacotes, medidas, estudos, apoios começa a ser alucinante. Ainda não nos refizemos de um anúncio (tipo anúncio publicitário de 30 segundos) sobre uma qualquer medida e já está outro na calha.
Sexta-feira foi o ministro das Finanças quem, algumas horas depois do primeiro-ministro ter mostrado abertura para baixar o IVA dos bens essenciais, anunciou que o Governo vai avançar com IVA zero num cabaz de bens alimentares considerados essenciais.
Sem que concretize o que é “cabaz de bens alimentares” o delfim de Costa deixou como que em nota de rodapé que a medida vai custar cerca de 410 milhões de euros. Fazendo uma conta rápida, acredito que o cabaz de bens alimentares considerados essenciais será constituído pelos mesmos produtos/cabaz com que se efetua o cálculo da inflação. Deduções à parte, tenho de questionar se não seria mais honesto reduzir o IVA de 23% para 6% (e o de 6% para zero)? Não teria esta medida impacto maior na inflação do que reduzir a 0% num cabaz pré-definido?
Com o Governo mais preocupado em anunciar porque sim, senti, ao assistir ao debate Parlamentar da passada quarta-feira, a um Primeiro-ministro de “cabeça perdida”, cansado, disposto a atirar para todos os lados, incluindo ao Presidente da República.
Desnorte, cansaço ou pura estratégia de comunicação, a verdade é que muito poucos continuam a “dar ouvidos” aos anúncios efetuados pelos membros do Governo. Marcelo Rebelo de Sousa vai mais longe e faz críticas duríssimas, desta vez ao programa “Mais Habitação”.
Escrevo esta crónica após o almoço e não posso deixar de registar algo que o Observador abordou esta manhã, isto após o Iniciativa Liberal ter questionado o primeiro-ministro sobre a possibilidade de os processos de José Sócrates prescreverem por ausência de regulamentação de uma lei. Ou seja, o antigo primeiro-ministro ser ilibado na secretaria.
Quero acreditar que não é de propósito que se está a atrasar a publicação de uma Portaria que regulamenta a distribuição em tribunal de processos. No entanto, a lei exige que a regulamentação seja feita no prazo de 30 dias e estamos à espera desde outubro de 2021. Este atraso poderá levar a que os processos de José Sócrates prescrevam. A acontecer será o descrédito de um dos maiores pilares da Democracia, a Justiça.
Os líderes nunca morrem e o seu legado ultrapassa gerações. Esta semana perdemos uma das referências deste País. Conheci o Comendador Rui Nabeiro desde sempre. Visitei a Delta pela primeira vez ainda na infância, o meu primeiro equipamento de futebol na escola tinha o logotipo da Delta como patrocinadora. Mais tarde, tive o privilégio de aprender diariamente com o Sr. Rui, de rir muito com o seu humor, de sonhar com a sua visão, de tremer com a voz imponente, de ficar vermelho e a suar quando errava e ele dava por isso, mas, acima de tudo, de aprender.
Precisamos de mais líderes inspiradores e precisamos que o País, sobretudo, a classe governativa, olhe para exemplos como o do Sr. Rui para que possamos viver o sonho e não a euforia da espuma dos dias.
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