Recordo com alguma nostalgia os dias em que vivíamos com muito menos tecnologia. Não considerando que a tecnologia não é importante. Nada disso! O que nos trouxe de bom é inquestionável, muito útil e mesmo revolucionário. A ela se deve o fenómeno da globalização, que tornou cada canto do mundo num lugar mais próximo, já para não falar das possibilidades que abre de exploração cada vez mais profícua do universo.
Vamos pensar nos tempos pandémicos que atravessámos tão recentemente. Foi a tecnologia que nos possibilitou estarmos mais próximos, que muitos adultos continuassem a poder contribuir com o seu trabalho, e que as crianças e jovens pudessem continuar a ter aulas. Ainda assim, com todos estes pontos tão indubitavelmente positivos, não deixo de ficar preocupada com os passos que a humanidade segue no encalço da tecnologia.
E reparem que a tecnologia não tem culpa alguma disto. Tudo tem a ver com a forma como é utilizada. Não temo o progresso, mas as pessoas que uma má utilização fazem dos avanços tecnológicos, perspetivando-os com um olhar pouco humano e muito mais mecanicista e em prol de proveitos que pouco nos enriquecem em termos de formação pessoal.
Assusta-me que se procure substituir o trabalho humano por máquinas. Preocupa-me que o contacto entre as pessoas seja cada vez menos presente. Entristeço-me quando passeios pelos corredores da minha escola e me apercebo de que cada aluno está sem ensimesmado (que palavrão!), sem que ocorra uma tertúlia saudável de ideias entre os estudantes, mergulhados no silêncio profundo das redes.
É muito difícil, quase inglório para um professor combater a atratividade das redes sociais e o avanço da tecnologia. Os smartphones invadiram as salas de aulas e só resta ao professor uma solução: atualizar-se. Trazer a tecnologia para dentro da sua aula, mas de forma a que a comunicação se materialize. Isso envolve formação adequada, para a quais, muitas vezes, os professores não conseguem frequentar, devido à enorme rede de burocracia que os envolve na atualidade. Pergunto: não seria muito mais pertinente, em prol da educação, libertar os professores da burocracia e conceder-lhes tempo para que possam tornar-se melhores profissionais, com a frequência de formação realmente útil?
Teremos de concordar que a tecnologia é o futuro, mas não à custa da desumanização das relações. Defendo que isso terá de ser sempre completamente salvaguardado, o que só se consegue com o investimento na formação e com uma educação adequada, em casa e nos estabelecimentos de ensino, nunca esquecendo o papel basilar que a cultura desempenha neste panorama. Seres humanos com discernimento, conhecimento, cultura e coração saberão, certamente, utilizar a tecnologia de forma inteligente e em prol de uma sociedade mais justa.
MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR
+ O bicho papão dos vídeos brasileiros do Youtube. Ou não é bem assim?
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.