
Mário João
Nada há de mais aborrecido no mundo do que aquelas conversas sobre as dietas da moda, as generalizações forçadas, as estatísticas a martelo, as publicações médicas a favor e a desfavor, o glúten, o leite, a dieta do australopiteco, a clorofila, os alimentos do ying e do yang. Os médicos, a new age e o veganismo, essa conversa toda. Mas ainda assim é mesmo sobre isso que vou escrever. Não pretendo iniciar mais uma rubrica de bem-estar e saúde, nem pretendo alimentar a engrenagem da alimentação saudável. Pensei muito e hesitei bastante em escrever esta crónica assim desta maneira. Não sou médico, nem cientista, nem investigador ou estatístico. Mas como faz precisamente por agora dois anos, acho que não tem mal nenhum contar a minha história. Porque é precisamente, e apenas e só isso: uma história, a minha história. Não é nenhum artigo científico baseado numa amostra significativa de ocorrências, não é nenhuma proposta médica com a pretensão de servir um conjunto alargado de pacientes, não é nenhuma teoria que eu tenha inventado e desenvolvido. Pode até ser coincidência, mas decidi contar a história porque a minha vida mudou para muito melhor. E essa revolução na minha vida resultou numa vida muito melhor, e devo-a a uma história semelhante que ouvi de alguém, o que me fez arriscar. Como se tratam de factos, decidi contá-los. Pode ser que inspire alguém a enveredar por uma solução semelhante, só para experimentar, quem sabe? Então cá vai. Entre setembro de 2015 e abril de 2016, tive febre todos os dias. Era uma sinusite misturada com rinite misturada com faringite. Já nem sequer sei pronunciar direito o nome do bicho. Eram infeções bacterianas umas atrás das outras. Andava em concertos (tive a maior parte dos concertos nos Coliseus com o António Zambujo nessa altura). Fui operado ao nariz algures a meio do processo. Passei por vários médicos. Tomei 16 caixas de antibiótico seguidas (receita médica, não fui eu que decidi, naturalmente). Antibióticos de três dias, de uma só toma, de dez dias, de uma semana, de largo espectro, mais específicos, menos específicos… devo ter tomado todos os que existem à venda. Nas alturas mais críticas, em dias de concerto, o menu proposto eram 12 comprimidos por dia. Sete logo ao pequeno almoço. Cortisona, anti-histamínico, anti-inflamatório, antibiótico, expetorante, analgésico para as dores de cabeça, alguns várias vezes por dia. À medida que os médicos iam desistindo de oferecer explicações e soluções, eu mudava para outro que me recomendavam. Andei nisto oito meses seguidos, e todos os dias à noite tinha febre. Foi-me explicado que passaria eventualmente, mas que não me havia de safar de tomar anti-histamínicos todos os dias, e que estes cocktails molotov de 12 comprimidos seria algo com que poderia contar, pelo menos, uma ou duas vezes por ano. Já tinha sido operado duas vezes ao nariz, mas desta vez parecia que a coisa não queria mesmo passar. Já estava, honestamente, lentamente a reconciliar–me com a ideia de que não voltaria a cantar, e já estava a preparar um disco com um conjunto de canções que não seriam cantadas por mim. Já tinha os nomes dos cantores convidados numa listinha. A minha voz tinha pura e simplesmente acabado. Até que ouvi uma história parecida, duma médica do Porto que tratava estas coisas essencialmente à base de dieta, sem químicos. Pior não havia de ficar. Tinha sofrido de rinite e sinusite crónica a vida toda, mas desta vez era muito pior. Então lá fui. A história acaba comigo a nunca mais tocar em laticínios, trigo, açúcar e carne de porco, e a fazer uma dieta à base de alimentos probióticos e vitaminas. Faz agora dois anos que nunca mais tive nada, nem febre, nem nariz entupido, nem sinusites, nem espirros, nem faringites. Nada de nada. Zero. Na pior das hipóteses, tinha feito uma dieta saudável, mas o que ganhei com isso foram a minha voz e a minha saúde de volta. Há dois anos que não tomo um único medicamento, nem sequer um ben-u-ron. Obrigado dra. Ana!
(Crónica publicada na VISÃO 1311 de 19 de abril)