Como o Eng. Sócrates bem sabe são fáceis de construir as narrativas que forem precisas para entreter as nossas almas tão distraídas.
A narrativa do Dr. Costa e dos seus apoiantes é que a geringonça inaugurou um novo paradigma, mundial, para o socialismo e a esquerda…
E, sejamos sinceros, mesmo se para o Dr. Costa está sempre tudo bem desde que ele esteja bem, há muita gente no PS que não levou isto apenas como salvação para a sova eleitoral de 2015. Há mesmo no PS quem gostasse que assim fosse: uma espécie de fusão com o Bloco e a sua ideologia gaiteira.
Nas gerações mais novas do PS, que a História não ensinou, o convívio com as irmãs naquelas reuniões diárias fez surgir uma linguagem equívoca mas que, na dúvida, caminha sempre nas alegadas virtudes da apropriação coletiva, do estatismo, da virtude pública sobre a vida privada.
Na última semana teve graça a interpretação deste jovem PS sobre as eleições em Inglaterra e em França. Se não fossem eles e os amigos novos da geringonça, o PS estava condenado a desaparecer como todos os Partidos Socialistas… à exceção do Labour que se reinventou numa guinada à esquerda.
Como a semana acabou com o Sr. Corbyn a sugerir ocupar casas dos ricos em Kensington para alojar as vítimas da torre que ardeu, deve ter havido muito brilho nos olhos okupas do Bloco. E nos seus amigos do PS. Aquela retórica de fazer tremer as pernas aos banqueiros, lembram-se?
Ocupar as casas dos outros, perdão, dos ricos, que sonho para quem acha que a política é mesmo só isso: mandar no que é dos outros.
São, contudo, traquinices que não afligem o Dr. Costa. Assim andam todos entretidos, os jovens turcos e os amigos julgam-se a nova comuna de Paris. Já o Governo, imune a esta alegria, cumpre ordeiramente o défice, faz desaparecer o investimento público, reduz a despesa com as cativações – a ponto de fazer corar a direita – e Centeno faz de Luke Skywalker do Yoda Schäuble…. O sol voltou a brilhar à esquerda com a geringonça, dizem eles. Hilário. Mas menos mau.
Se houvesse alguma coisa de parecido com o Sr. Corbyn ao leme tínhamos mesmo tido as agências de notação a rever o susto que apanharam com o resultado parlamentar das eleições…
E se preciso fosse para recordar que temos entre nós o PS dos velhos hábitos bastou este episódio TAP.
Os ideólogos da geringonça acham que isto é só aquela característica clássica do PS: a procura dos jobs for the boys e o tratamento do Estado como se fosse o quintal da casa. No fundo não se curam os vícios todos de uma vez e é só nesse lado menor da política que falha António Costa.
É por isso que toda a gente aproveitou o Dr. Lacerda Machado para se esquecer da TAP. Se o problema é só o primeiro-ministro nomear os amigos, se são só esses os velhos hábitos, o pecado não pesa muito. Mas não são. Desde logo a razão que não recomendava o Dr. Lacerda era o seu próprio percurso de antigo parceiro da TAP e do PM nas aventuras do MAI. Mas isso, novamente, é o menos. O que é afinal a reversão da TAP feita pelo PS e para que serviu?
A TAP precisava de investimento privado. Disseram-nos todos… E por isso ficaram os privados. E, apesar de ficarem com a gestão dos direitos económicos (lucros) quase todos, o que investiram afinal desde que o PS entrou? Parece que nada. Já a TAP investiu muito neles não é? Comprou aviões à AZUL, vendeu parte da frota, endividou-se mais, com a garantia do Estado e desistiu do A350 sem termos percebido se afinal acaba a ser a única companhia europeia que compra Boeings.
Nada mal para aquele senhor brasileiro que parecia muito contrariado mas até já arranjou uns chineses para novos donos da TAP e faz o que quer sem gastar um euro. É isto a reversão do PS.
Como escrevia o Sr. Lampedusa, e o Dr. Costa bem aprendeu, é preciso que tudo mude para que as coisas permaneçam iguais. Nova esquerda em Portugal? Tá bem abelha..