Não encontro melhor forma de anunciar o ano de 2024 do que escrever duas datas: 5 de Novembro e 25 de Abril. Pô-las juntas é como colocar a desesperança e a esperança na mesma frase, como pôr as trevas e a luz ao lado uma da outra. Uma espécie de acontecimento cósmico ou de mensagem divina que nos apresenta o possível mal e o bem, a injustiça e a justiça, a repressão e a liberdade, a intolerância e a tolerância.
Só nós, portugueses, percebemos a possibilidade desse paralelo. O 25 de Abril de 1974 foi um acontecimento interessante para o mundo. A mais velha ditadura europeia e o último bastião do colonialismo do continente caíam através uma revolução sem sangue, em que as espingardas não dispararam balas mas cravos. Porém, mesmo estes pormenores românticos, as consequências africanas para a Guerra Fria e a posterior momentânea possibilidade de haver uma Cuba europeia não deixaram propriamente o mundo sedento de notícias do canto onde a Europa acaba. Já para os portugueses foi a mais extraordinária mudança da nossa muito longa História. Os 50 anos do 25 de Abril, que celebramos no próximo ano, são muitíssimo mais do que a comemoração da mudança de regime.