A personalidade é uma das principais influências na forma como nos relacionamos com as outras pessoas no contexto de trabalho. O bom ajustamento da pessoa à equipa pode contribuir fortemente para uma saúde mental equilibrada de todos os seus elementos. Desta forma, num processo de recrutamento e seleção, é importante que os recrutadores prestem atenção a certas características da personalidade do candidato, não se baseando apenas numa primeira impressão sobre o mesmo.
A avaliação da personalidade nestes contextos pode ser realizada de várias formas, como entrevistas, dinâmicas de grupo e testes psicológicos. Um desses testes é o TOP, criado por Dominik Scharwarzinger e Heinz Schuler (2019; Hogrefe), que avalia a chamada “tríade negra da personalidade”: Narcisismo, Maquiavelismo e Psicopatia subclínica. O Narcisismo é caracterizado por uma crença de superioridade, necessidade de dominar e de ser admirado, e de exploração de outras pessoas para benefício próprio. O Maquiavelismo é caracterizado pela manipulação como meio para um fim, e pela frieza interpessoal. E a Psicopatia é caracterizada por uma insensibilidade emocional, impulsividade, comportamentos antissociais, procura de excitação ou entusiasmo, e ausência de culpa e empatia. Estes traços têm recebido muita atenção científica, assim como por parte de Recursos Humanos das empresas. O TOP avalia estes traços adaptando-os ao contexto laboral, assumindo, respetivamente, as designações de Abordagem egocêntrica ao trabalho, Atitude de trabalho focada na execução, e Estilo de trabalho descomprometido/impulsivo. A sua avaliação permite um melhor conhecimento dos candidatos no sentido de promover ambientes de trabalho não tóxicos e proporcionadores de bom clima organizacional, sobretudo quando estes candidatos poderão vir a exercer funções com responsabilidades de chefia.
O recurso a instrumentos que estão adaptados à população em que são aplicados ajuda a complementar outras técnicas de diagnóstico, permitindo identificar quem tende a assumir comportamentos mais afastados da norma e menos ajustados ao funcionamento normal de uma equipa de trabalho
No estudo de adaptação do TOP à população portuguesa, realizado pelo Centro de Avaliação Psicológica do ISPA – Instituto Universitário, verificámos que indivíduos que exercem funções de chefia tendem a reportar uma abordagem mais egocêntrica ao trabalho, assumindo de forma interessada um papel mais autocrático na chefia na equipa, assim como maior perceção de competência no seu exercício. Isto mostra que existe uma ligação entre a autoridade formalmente recebida para liderar e a crença de que se é competente para a exercer.
Relativamente aos outros dois traços, apesar de não termos encontrado diferenças substantivas, verificou-se uma tendência para quem não tem responsabilidades de chefia assumir uma atitude de trabalho mais focada na execução, traduzindo-se numa maior insensibilidade aos outros, atuando com menos atenção para os outros, e focando-se nos seus objetivos sem olhar aos meios. Da mesma forma, tendem a adotar um estilo de trabalho mais descomprometido e mais impulsivo.
O conhecimento e avaliação da tríade negra da personalidade no trabalho pode ajudar a prever o quão tóxica poderá ser a relação futura com os restantes colegas de equipa.
O papel dos especialistas de recrutamento passa assim por identificar candidatos que tendem a adotar estas abordagens ao trabalho de uma forma extremada, e consequentemente desviante. O recurso a instrumentos que estão adaptados à população em que são aplicados ajuda a complementar outras técnicas de diagnóstico, permitindo identificar quem tende a assumir comportamentos mais afastados da norma e menos ajustados ao funcionamento normal de uma equipa de trabalho num contexto de trabalho específico.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.